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Prefeitura da Cidade do Recife

#TBT101 – “Në rope” articula a importância da presença do jornalismo diante das pautas indígenas

“Në rope – A fertilidade da nossa origem”: fez parte da programação do Janeiro de Grandes Espetáculos
Por Bárbara Bittencourt
“Toda a cidade de S. Paulo ainda está enlutada por causa da morte do constante e corajoso deffensor da Liberdade”, foi assim que O Observador Constitucional, jornal liberal fundado por Líbero Badarò, iniciou seu centésimo quarto número: externando a indignação pelo assassinato de seu fundador.
Numa noite de novembro de 1830, Giovanni Battista Libero Badarò foi atacado por inimigos políticos. O episódio o marcou como símbolo da defesa da liberdade de imprensa, pois acredita-se que o liberal, oposicionista ao governo de Dom Pedro I e defensor da independência brasileira, teria dito “morro defendendo a liberdade” antes de falecer.
Cem anos depois, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) instituiu o Dia do Jornalista em sua homenagem. A ABI foi fundada em 7 de abril de 1908, com o objetivo de assegurar os direitos dos jornalistas brasileiros. Em 1931, a associação usou a data e o legado de Badaró como um marco para que nunca esqueçamos da importância do jornalista para a democracia, cujo papel é o de questionar os líderes políticos, levar informações para o povo, promover o debate público e a cultura popular e zelar pelos direitos humanos.
É para celebrar o Dia do Jornalista, juntamente com o Abril Indígena, que relembramos, neste #TBT101, a entrevista de Gabriele Alves com os jornalistas Júnior Aguiar e André Zahar, escritores do espetáculo teatral “Në rope – A fertilidade da nossa origem”, programação do Janeiro de Grandes Espetáculos que faz uma denúncia da política oficial de extermínio dos povos originários latino-americanos, ao mesmo tempo que reverencia o xamanismo ameríndio.
Gabriele Alves: André nos trouxe a informação muito importante de que eles [Júnior e André] são jornalistas, e isso agrega muito ao fato deles serem artistas. Aliar esses dois trabalhos faz uma diferença absurda na hora de assistir “Në rope”, né?
Júnior Aguiar: A priori, olhando de longe, parece que a obra só fala da causa indígena, que é evidentemente urgente e é o coração da obra, mas “Në rope” também faz uma reflexão de qual é o papel do jornalismo hoje no mundo das fake news. O próprio protagonista da peça é um jornalista que vai cobrir uma matéria sobre o assassinato do filho de um pajé, e vai se descobrindo, se humanizando, se transformando em um cidadão brasileiro que realmente compreende a raiz da nossa origem. Então, é um espetáculo que reflete sobre qual é o papel do jornalismo. Em certo ponto, também, é toda essa reflexão sobre a causa indígena: “quem somos, de onde viemos, qual é a identidade da nossa sociedade brasileira?” e, em outro aspecto, um espetáculo que fala sobre o xamanismo e sobre a medicina xamânica, numa espécie de vanguarda teatral.
Os entrevistados também ressaltaram a necessidade de buscarmos por justiça aos povos indígenas, que foram vítimas de um genocídio que, ao invés de ser noticiado, foi silenciado. Isso diz muito da importância do jornalismo: como sua ausência em contar algumas histórias tem um impacto profundo na vida dessas pessoas.
Júnior Aguiar: Aí chegamos no coração da palavra da peça: a história de um espetáculo que quer justiça por um crime de genocídio. Porque o que aconteceu nesses 500 anos foi uma matança, um extermínio, um massacre silencioso de um povo. A imprensa só noticia um, dois casos. Uma parte profunda da peça é quando dizem “Nossa, tá acontecendo essa confusão toda porque morreu um indígena”, todo dia morre um indígena, e ninguém diz nada.
É a partir disso que eles argumentam como a população indígena não somente foi assassinada, como também passou por um genocídio cultural, que tentou lhes roubar seus hábitos alimentares, tradições e identidades. André Zahar complementa: “a gente quer a luta pela justiça, e a luta contra o esquecimento”.
Que nunca esqueçamos que todas as histórias devem ser contadas, principalmente a história dos donos da terra, dos povos que protegem nossa biodiversidade e nossa ancestralidade. É dever do jornalista ser a ponte que leva essas histórias ao público, com o rigor e o cuidado que apenas o diploma e os anos de experiência na profissão podem garantir. O informe de que a violência contra jornalistas continua em crescimento no Brasil (os ataques cresceram 22% em 2022, segundo a Abraji), apenas atesta o medo que movimentos antidemocráticos possuem do potencial transformador da realidade que o jornalismo possui.
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Ficou a fim de escutar a entrevista na íntegra? Clica aqui pra conferir. Lembrando que o #TBT101 é uma coluna em que, toda quinta-feira, vamos relembrar entrevistas e programas massas e importantes que já rolaram na programação da rádio pública do Recife.

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