Por Bárbara Bittencourt
Em novembro de 2021, a Frei Caneca FM foi iluminada por uma luz de esperança em tempos difíceis, que surgiu cantando sobre tristeza, autossabotagem, honestidade e mudanças no contexto da pandemia. Ressoando com lindas melodias e rimas que inspiram coragem, Tássia Reis chegava para conversar sobre o álbum “Próspera D+” com Gabriele Alves, no BR-101.5.
Produzido durante os anos de lockdown, “Próspera D+” resgatou a energia e algumas letras do álbum antecessor da cantautora, o “Próspera”, de 2019. Porém, trazendo novos arranjos, composições e discussões. A intenção de Tássia era experimentar, expressando seus sentimentos também enclausurados em novas batidas, ou melodias já utilizadas antes, mas com outro significado. Ou, até mesmo, inserindo músicas sem alteração alguma, mas ressignificadas pelas novas histórias que as acompanhavam.
Gabriele Alves: Eu ia começar essa entrevista de outro jeito, mas já que você trouxe essa energia lá pra cima, me lembrou um trecho do seu release que me pegou muito, deixou meu coração quentinho, que diz o seguinte: ‘O resultado é esse álbum que vem com uma força, um impulso pra nos fazer sair da cama, tirar o pijama, afastar o sofá e dançar. Porque apesar de todos os momentos difíceis que passamos nesses últimos tempos, sobrevivemos.’ Como é sobreviver, Tássia Reis?
Tássia Reis: Uau. É isso né. Acho que, talvez, estamos lidando com essa chance de vida, com esse retorno de poder pensar em viver de novo. Para mim foi muito importante fazer esse disco porque ele me deu essa injeção. Eu estava muito triste (ainda estou), e não estava conseguindo ter momentos de alegria porque não via motivos para tê-los. Então, falei para mim mesma: “preciso viver, preciso honrar essa vida''. Assim, comecei a falar sobre coisas que eu gostaria de viver e disso nasceu o “Próspera D+”. Ele expande o universo do “Próspera” de 2019, mas vem com esse outro peso, com esse outro olhar, que até fez mais sentido durante a pandemia: de ter que lidar com você mesmo, com a sua auto sabotagem, com os seus medos, como um espelho. Acho que isso ficou claro para mim durante a pandemia, e acho que cresceu em mim a vontade de achar o meu equilíbrio interno e a energia de querer viver, essa energia de vida mesmo.
Gabriele Alves: Uma coisa que identifico acompanhando o seu trabalho é que você tem uma sinceridade muito grande, porque você fala de si mesma e gera uma identificação completa. Eu, por exemplo, quando estou na bad, escuto “Se Avexe Não” e fico ali me acolhendo. É uma coisa que você traz, esse sentimento que permeia o “Próspera D+”, esse acolhimento para todo mundo.
Tássia Reis: Eu sou uma artista, uma compositora, uma "cantautora'', que fala sobre suas experiências. Sobre o que eu identifico do mundo, o que eu identifico em mim e o que eu identifico de mim para o mundo e vice-versa. Como eu observo as coisas, é algo que nasceu da minha necessidade de se expressar, e não só da vontade de fazer uma música que fosse um grande hit. Acabou virando música e algumas ganharam o mundo. Acho que, para mim, essa honestidade… eu gosto da palavra honestidade, acho que ela cabe em muitos lugares. Acho que ser honesto consigo mesmo é uma das coisas mais bonitas que você pode fazer para si mesmo e para as outras pessoas. Às vezes não somos honestos com os outros, mas, principalmente, não somos honestos com nós mesmos, nos enganamos muito. Então, eu gosto de estar com a minha honestidade em dia comigo mesma. A partir disso, não tem como não falar de mim e dos meus pensamentos, das minhas coisas. Uma coisa acaba puxando a outra.
Em seguida, Gabi e Tássia falam como mudamos com o passar do tempo, assim como nossas perspectivas sobre as coisas que gostamos também.
Gabriele Alves: Falando desse universo expandido, acho que o “Próspera D+” é mais do que uma versão deluxe, porque você faz um convite a quem ouve o disco para revisitar esse universo e ouvir de outra forma. Pois, somos diferentes de quem éramos em 2019, e ao trazer essa nova roupagem, as pessoas têm outra experiência também, né.
Tássia Reis: Total, total. Em seis meses de 2020, eu já dizia: “Meu Deus, eu não sou mais aquela pessoa”. Agora, depois de um ano e meio, quase dois anos, me pergunto quem eu sou (risos). Tudo mudou. E não mudou radicalmente, mas algumas coisas sim, outras não. Outras melhoraram, outras pioraram, enfim, vida. Vidas e dinâmicas. Não somos mais as mesmas pessoas e pode ser que nunca voltemos a ser, sabe. É muito louco pensar nisso, e eu penso muito nisso. Então, para mim, “Próspera D+” não é só um deluxe, não é só uma versão dançante das músicas do “Próspera” de 2019. Pelo contrário, tem músicas inéditas, tem as versões revisitadas, que algumas pessoas podem chamar de remix ou não. Existem músicas em que mexemos tanto que mudamos até a harmonia da música, então acaba sendo uma música nova também. Têm algumas músicas que trouxemos do “Próspera” e tem pessoas achando que eu mexi, e eu não mexi em algumas. Mas o novo olhar te faz ver de outra forma, e o jeito que elas estão inseridas no disco também te faz enxergá-las de outra forma. Para mim, é novidade demais tudo isso e eu fico feliz de poder extrair a essência de um trabalho anterior, conseguindo gerar um novo com um formato que, até então, não tinha reparado que talvez tenhamos inventado.
Depois da entrevista, a sensação que ficou era de que Tássia Reis trouxe seu álbum ao mundo para criar um espaço seguro onde as pessoas pudessem depositar suas esperanças e inseguranças, tal qual a “cantautora”. E não só nos presenteou com sua panelada de referências, como também trouxe reflexões e conselhos valorosos para os ouvintes. Ela foi uma verdadeira “injeção de vida” com seu bom humor e experiências. Sejamos todos mais como Reis: vamos viver, vamos honrar nossa vida.
Ficou a fim de escutar a entrevista na íntegra? Clica aqui pra conferir. Lembrando que o #TBT101 é uma coluna em que, toda quinta-feira, relembramos entrevistas e programas massas e importantes que já rolaram na programação da rádio pública do Recife.
Todas as entrevistas ficam disponíveis na sua plataforma de streaming favorita (Spotify, Deezer, Castbox, Google Podcasts, Anchor ou Mixcloud, além do YouTube).
Compartilhe