Foto: Nathália Cariatti
Por Mateus Paegle
Neste mês que marca o Dia do Orgulho Lésbico (19) e o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica (29), a Frei Caneca FM dedica a coluna semanal #TBT101 a relembrar algumas de nossas entrevistas já realizadas com mulheres lésbicas. Nesta edição, resgatamos a entrevista concedida pela cantora Cátia de França a Gabriele Alves, no programa BR-101.5.
Nascida em João Pessoa, na Paraíba, Cátia de França é uma cantora, compositora, instrumentista, escritora, sonoplasta e diretora musical que tem na bagagem meio século de carreira musical. Com seis discos lançados entre 1979 e 2016, Cátia constrói uma trajetória que envolve a evolução de diversos ritmos, experimentações e parcerias. A artista costuma contar que foi alfabetizada por sua mãe, Adélia de França, a primeira educadora negra do estado da Paraíba, e que na sua casa “podia faltar manteiga, mas jamais faltaria um livro”.
Na entrevista com Gabriele Alves, para o BR-101.5 que foi ao ar no dia 02 de fevereiro de 2024, Cátia de França falou sobre a participação no festival Porto Musical, sua relação com Pernambuco e como o acesso à literatura desde cedo, até hoje, lhe inspira artisticamente.
Gabriele: Hoje, sexta-feira, dia 2 de fevereiro, começam os shows cases aqui na Praça do Arsenal e quem fecha o palco de hoje é Cátia de França, muito boa tarde Cátia!
Cátia: Eita ouvintes da Frei Caneca, Pernambuco é demais, tem muito a ver com minha vida, com todas as coisas, morei aqui em Recife, depois fui morar em Olinda, Rio Doce, e por aí vai.. o Bar de Maria, o Bar de Aritana. Para falar da minha vida, da minha trajetória, tenho que citar Pernambuco. Morei aqui nos anos 90, casei aqui e fiquei até 1996, depois voltei para a Paraíba e depois fui para o Rio, porque aqui, na época, não acontecia nada. A gente sabe que hoje acontece, você fica no lugar de origem e faz sucesso do mesmo jeito.
Gabriele: Você, na sua carreira, sempre fez referências à literatura, você sempre faz questão de trazer quem veio antes e colocar dentro do seu trabalho, né?
Cátia: É porque minha mãe, professora, foi a primeira mulher negra a ser uma educadora na Paraíba. O nome dela era Adélia de França, até lançaram o livro sobre ela, porque não tinha nada sobre ela, nem no Google, e aí lançaram um livro sobre ela lá numa universidade da Paraíba. Então lá perto da casa da gente, na Almeida Barreto, ela tinha uma escola chamada “Moura e Silva” que era o nome do meu avô paterno. E lá na nossa casa faltava manteiga, mas tinha livro. Meu pai dizia: “vai passar livro no pão?” e aí minha mãe falava: “Deixe de história e não influencie a menina”. Então eu era uma filha única que tinha os livros como uma constante na minha vida. E o que me torna eterna não é porque eu me apaixonei, ou porque a lua estava minguante, é o que eu leio, pelo que eu leio eu “engravido” e coloco avante. Então a música “Vinte Palavras Girando ao Redor do Sol” é de um poema de João Cabral de Melo Neto, “Coito das Araras”, um dos maiores sucessos meus, é de um poema de Guimarães Rosa, “Antoninha me Leva” é de Manoel de Barros, e por aí vai, eu sou o que eu leio, assim como eu sou o que eu como.
Ao longo do papo, Cátia de França também falou sobre as últimas turnês e lançamentos, comentou a participação no festival Porto Musical e a importância do cuidado e do respeito à arte e à cultura.
Confira essa entrevista na íntegra através do nosso canal no Spotify. Toda quinta-feira publicamos a coluna #TBT101, onde o ouvinte relembra entrevistas importantes que a 101.5 trouxe na grade de programação.
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