ícone face twitter instagram

#TBT101 - “Në rope” articula a importância da presença do jornalismo diante das pautas indígenas

06.04.23 - 07H42
“Në rope - A fertilidade da nossa origem”: fez parte da programação do Janeiro de Grandes Espetáculos

“Në rope - A fertilidade da nossa origem”: fez parte da programação do Janeiro de Grandes Espetáculos

Por Bárbara Bittencourt

 

“Toda a cidade de S. Paulo ainda está enlutada por causa da morte do constante e corajoso deffensor da Liberdade”, foi assim que O Observador Constitucional, jornal liberal fundado por Líbero Badarò, iniciou seu centésimo quarto número: externando a indignação pelo assassinato de seu fundador. 

Numa noite de novembro de 1830, Giovanni Battista Libero Badarò foi atacado por inimigos políticos. O episódio o marcou como símbolo da defesa da liberdade de imprensa, pois acredita-se que o liberal, oposicionista ao governo de Dom Pedro I e defensor da independência brasileira, teria dito “morro defendendo a liberdade” antes de falecer. 

Cem anos depois, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) instituiu o Dia do Jornalista em sua homenagem. A ABI foi fundada em 7 de abril de 1908, com o objetivo de assegurar os direitos dos jornalistas brasileiros. Em 1931, a associação usou a data e o legado de Badaró como um marco para que nunca esqueçamos da importância do jornalista para a democracia, cujo papel é o de questionar os líderes políticos, levar informações para o povo, promover o debate público e a cultura popular e zelar pelos direitos humanos. 

É para celebrar o Dia do Jornalista, juntamente com o Abril Indígena, que relembramos, neste #TBT101, a entrevista de Gabriele Alves com os jornalistas Júnior Aguiar e André Zahar, escritores do espetáculo teatral “Në rope - A fertilidade da nossa origem”, programação do Janeiro de Grandes Espetáculos que faz uma denúncia da política oficial de extermínio dos povos originários latino-americanos, ao mesmo tempo que reverencia o xamanismo ameríndio. 

Gabriele Alves: André nos trouxe a informação muito importante de que eles [Júnior e André] são jornalistas, e isso agrega muito ao fato deles serem artistas. Aliar esses dois trabalhos faz uma diferença absurda na hora de assistir “Në rope”, né?

Júnior Aguiar: A priori, olhando de longe, parece que a obra só fala da causa indígena, que é evidentemente urgente e é o coração da obra, mas “Në rope” também faz uma reflexão de qual é o papel do jornalismo hoje no mundo das fake news. O próprio protagonista da peça é um jornalista que vai cobrir uma matéria sobre o assassinato do filho de um pajé, e vai se descobrindo, se humanizando, se transformando em um cidadão brasileiro que realmente compreende a raiz da nossa origem. Então, é um espetáculo que reflete sobre qual é o papel do jornalismo. Em certo ponto, também, é toda essa reflexão sobre a causa indígena: “quem somos, de onde viemos, qual é a identidade da nossa sociedade brasileira?” e, em outro aspecto, um espetáculo que fala sobre o xamanismo e sobre a medicina xamânica, numa espécie de vanguarda teatral.

Os entrevistados também ressaltaram a necessidade de buscarmos por justiça aos povos indígenas, que foram vítimas de um genocídio que, ao invés de ser noticiado, foi silenciado. Isso diz muito da importância do jornalismo: como sua ausência em contar algumas histórias tem um impacto profundo na vida dessas pessoas.

Júnior Aguiar: Aí chegamos no coração da palavra da peça: a história de um espetáculo que quer justiça por um crime de genocídio. Porque o que aconteceu nesses 500 anos foi uma matança, um extermínio, um massacre silencioso de um povo. A imprensa só noticia um, dois casos. Uma parte profunda da peça é quando dizem “Nossa, tá acontecendo essa confusão toda porque morreu um indígena”, todo dia morre um indígena, e ninguém diz nada.

É a partir disso que eles argumentam como a população indígena não somente foi assassinada, como também passou por um genocídio cultural, que tentou lhes roubar seus hábitos alimentares, tradições e identidades. André Zahar complementa: “a gente quer a luta pela justiça, e a luta contra o esquecimento”.

 

Que nunca esqueçamos que todas as histórias devem ser contadas, principalmente a história dos donos da terra, dos povos que protegem nossa biodiversidade e nossa ancestralidade. É dever do jornalista ser a ponte que leva essas histórias ao público, com o rigor e o cuidado que apenas o diploma e os anos de experiência na profissão podem garantir. O informe de que a violência contra jornalistas continua em crescimento no Brasil (os ataques cresceram 22% em 2022, segundo a Abraji), apenas atesta o medo que movimentos antidemocráticos possuem do potencial transformador da realidade que o jornalismo possui.

* * *

Ficou a fim de escutar a entrevista na íntegra? Clica aqui pra conferir. Lembrando que o #TBT101 é uma coluna em que, toda quinta-feira, vamos relembrar entrevistas e programas massas e importantes que já rolaram na programação da rádio pública do Recife.


Todas as  entrevistas ficam disponíveis na sua plataforma de streaming favorita (Spotify, Deezer, Castbox, Google Podcasts, Anchor ou Mixcloud).


Compartilhe