ícone face twitter instagram

#TBT101 - Doralyce que nos leva

09.06.22 - 09H19
Doralyce

Divulgação Selo Colméia (Foto: Carolina Bassani)

Por Johnny de Sousa
 

Em momentos de tanta liquidez, os sentimentos perpassam a superfície de maneira quieta, sem fazer goteira e nem enxurrada. No entanto, não deixam de molhar a alma e os olhos de quem sente, mesmo em segredo. A canção “Vá e Leve”, da cantora e compositora pernambucana Doralyce, transborda e faz com que o sentimento inunde, dando um banho naqueles que se recusam a chorar de amor, ou de saudade.

Em Julho de 2021, a pilota do BR-101.5, Gabriele Alves, teve uma conversa profunda com a cantora, em que nadaram sobre o sentimento da música que entrou na programação da Rádio Pública do Recife. Doralyce saudou a rádio emocionada, exaltando a mulherada que segue no fronte e mandando fortes recados sobre luta, mudança e, é claro, amor próprio.

Gabriele:  Vamos do comecinho, Doralyce. Do que fala “Vá e Leve”?

Doralyce: Fala sobre encerramento de ciclo. Sobre renovação dos vários momentos da vida, sendo uma canção para abrir nosso corpo, nosso coração, e entender que nada é estático. Afinal, tudo se transforma… Até o nosso pensamento. É uma canção que reitera a importância da leveza, que exige que tudo seja leve, que você não carregue mais do que precisa. É sobre respeitar suas capacidades, mesmo.

Gabriele: É muito importante a gente saber se respeitar, não é?

Doralyce: Sim, eu acho que a música fala sobre isso, também. A gente destaca o quão importante é sobreviver, e saber sentir o momento. Estamos numa pandemia que tem testado todas as nossas capacidades e possibilidades de relação com o capital, fazendo a pressão que cai sobre nós, todos os dias, ainda pior. A fome se generalizou, todo mundo que trabalha com cultura tá passando por alguma dificuldade, estamos esperando o presidente parar de receber propina e resolver distribuir vacina e comida no prato do povo. Mesmo assim, a gente não deixa de cultivar a esperança, que é o que nos mantém vivos nesse momento, sabe?  

Gabriele: Nossa, que importante ouvir isso na sua voz. Nós temos essa força revolucionária, de ir à luta sempre que possível, mas vivemos com batalhas internas. A gente já vem te acompanhando, Doralyce, há um tempo, e temos visto muito essa mudança, de uma artista afrontosa para uma outra, dessa vez mais leve. Como foi essa mudança?

Doralyce: Pois é, como eu disse, a pandemia descasca a gente. Acho que essa mudança já estava plantada desde mais nova, quando eu estava aprendendo a tocar violão. Por mais que eu tivesse algumas aulas, eu não tinha uma coordenação muito exemplar, então acabei abandonando o estudo por algum tempo. Quando veio a pandemia, eu descobri esse meu lado “voz e violão”, e comecei a compor, consequentemente, coisas mais minimalistas. Quando eu vi, eu estava compondo sozinha e acabei me encontrando nesse meio. Além dessas questões mais técnicas, o sentimento acabou se misturando, resultando nessas canções mais melancólicas, meio que “pegando leve” comigo mesma.

No percorrer das águas dessa entrevista, a cantora ainda fala da importância de se libertar das relações tóxicas que nos foram construídas ao longo dos anos, remanescentes de um sistema patriarcal e violento de relação com o próximo, levando em conta conceitos hierárquicos e totalitários. Doralyce ainda destaca que é a cantora preta e LGBT mais bem sucedida de Pernambuco, dando crédito às suas outras grandes inspirações, como Cila do Coco e Lia de Itamaracá. 

Ficou a fim de escutar a entrevista na íntegra? Clica aqui pra conferir. Lembrando que o #TBT101 é uma coluna em que toda quinta-feira vamos relembrar entrevistas massas e importantes que já rolaram na rádio pública do Recife.

Todas as faixas de entrevistas do BR-101.5 estão disponíveis na sua plataforma de streaming favorita (Spotify, Deezer, Castbox, Google Podcasts, Anchor ou Mixcloud).

Vem de carona com a gente pelas estradas da cultura!


Compartilhe