Foto: Thays Medusa/Divulgação
Por Johnny de Sousa
Na boléia da pandemia, o cenário era de guerra para os artistas periféricos. Por sorte, a vontade é sempre maior do que o medo, fazendo erguer-se em meio a realidades difíceis os mais bonitos dos sonhos. A dupla Barbarize levanta seu estandarte nesse momento, em que a luta é real e a sobrevivência é uma ordem, fazendo o som mais poderoso possível para iluminar as ruas da comunidade do Bode.
Em dezembro de 2021, a pilota do BR-101.5 Gabriele Alves nos entregou um papo lindo com Barbara e Yuri, a linha de frente do grupo, conversando sobre suas origens, influências e o que buscam fazer com sua música. O orgulho de falar em nome de suas raízes é o mesmo que cantar para a cidade o que é a efervescência cultural do Pina (mais especificamente do Bode), sendo este ato uma grande revolução artística dentro da cidade do Recife.
Gabriele: A sonoridade de vocês é o que mais chama a atenção, porque há essa mistura de funk, rap e samba. E através dessa mistura, vocês introduzem uma influência ainda mais única, que é a do Afro Trap. Como se deu essa mistura entre gêneros e o que levou vocês ao Afro Trap?
Bárbara: Nós já tínhamos uma noção de como a gente gostaria de fazer nosso som, isso por conta das nossas escolhas de referência. Já tínhamos as letras, então o próximo passo seria se aproximar do que a gente queria fazer. Foi aí que, nessa época, conhecemos um cantor chamado MHD, que exclusivamente cantava Afro Trap. Na hora que a gente ouviu aquele som, pensamos “Poxa… acho que é isso, hein”. Como a gente não sacava muito de mixagem e essas coisas, contatamos alguns amigos da comunidade que abraçaram o projeto e o transformaram no que ele é hoje. Então a gente não só tinha o Afro Trap como também pegamos referências do funk pesadão, de Heavy Baile, e o rap com batidas afro, no estilo de Rincon Sapiência. Com esse projeto mais maduro, nós escrevemos nossos nomes na Lei Aldir Blanc e passamos. Foi uma loucura, ficamos felicíssimos e, com toda a grana que recebemos no projeto, fizemos da nossa produção um projeto enorme, que tá com a gente até hoje!
Gabriele: Desde o início vocês evocam a presença do Coletivo Pão e Tinta. Essas figuras estão presentes nos clipes, na produção do disco, no design, e isso faz a galera reconhecer quem está por trás desse projeto e o que o faz andar tanto. Falem um pouco do que é o Pão e Tinha e como se deu essa relação entre a banda e o coletivo.
Yuri: Bem, o Coletivo Pão e Tinta inclui nós (Barbarize) e toda uma galera que faz a nossa música acontecer. Existimos há mais de dez anos, sendo uma instituição periférica que exalta a cultura do bairro do Pina, que tem uma intervenção negra muito forte. A gente se utiliza dessa negritude daqui, com o Grafite, o Break e o Rap, para fortalecer a cultura periférica de Recife como um todo, sendo a música o nosso meio principal.
Bárbara: O coletivo existe já tem muito tempo, mas só entramos nele em 2017, um ano depois que começamos a namorar. Nós o conhecemos por causa da minha mãe, que já era integrante, e deu essa força pra a gente entrar, nos dando a oportunidade de participar de uma intervenção artística que rolou no ano que entramos, sendo ela uma apresentação de aniversário do Pão e Tinta. Juntamos uma galera, fizemos a performance e, assim que terminou, fomos ajudar na cozinha, na estrutura da festa, na produção (risos)… então meio que somos isso, fazemos vários "corres'' ao mesmo tempo, e sempre se ajudando. Quando viemos pro Pina, era o começo da pandemia e precisávamos de um lugar mais perto de onde a gente trabalhava, que era por aqui no Bode. Com isso, a gente criou nossa sede, aqui na comunidade, mesmo, que chamamos carinhosamente de Casa Colab, onde “trampamos”, fazemos clipes e até dormimos, às vezes (risos).
Gabriele: Vocês trazem a comunidade do Bode pra dentro dos seus clipes. Tem gente pra caramba e em vários momentos e cenários diferentes, mostrando o quanto esse lugar influencia vocês. Como vocês decidiram mostrar isso?
Barbara: Qualquer lugar do Pina que você for, vai dar pra sentir essa energia evolutiva, de que se tem algo sendo produzido. Com o nome do nosso disco sendo “Sobre Vivências Periféricas”, sendo já influenciado pelo nosso meio, não faria sentido os clipes serem gravados em outros cenários. Tava brotando tanta coisa boa por aqui, na comunidade, que a gente se sentiu acolhido, não tendo vontade de ir produzir em nenhum outro lugar. Por mais que seja uma correria grande, encontrar esses lugares incríveis acaba sendo um exercício para conhecer nosso meio, dos mangues aos becos grafitados daqui. Esses rolês são o que fazem o Pão e Tinta vibrar e descobrir novas possibilidades, não só para a gente mas para toda a comunidade. A arte produzida aqui é o que faz o nosso pertencimento.
Ficou a fim de escutar a entrevista na íntegra? Clica aqui pra conferir. Lembrando que o #TBT101 é uma coluna em que toda quinta-feira vamos relembrar entrevistas massas e importantes que já rolaram na Rádio Pública do Recife.
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