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TBT101 - Ankhcestral: a filosofia de vida afrocentrada que resgata para proteger

27.07.23 - 09H58
Gabrielle Monteiro falando sobre o tema Ankhcestral

(Gabrielle Monteiro falando sobre o tema Ankhcestral)

Por Luiz Rodolfo Libonati

Quando estamos imersos numa rotina que exige de nós, muitas vezes, mais do que é humanamente possível entregar, é inevitável nosso equilíbrio se perder. Não há para lazer, estar de fato com a família e amigos, apreciar as pequenas e valiosas coisas da vida. E, num mundo que atrela nosso valor pessoal à nossa produtividade profissional, o cenário não pode ser outro. Dessa forma, a gente se pergunta, o que é possível ser feito para proteger a ordem afetiva, individual e coletiva, que nos faça bem?

Certamente, entre as possibilidades necessárias, está a prática do autocuidado, que visa a uma qualidade de vida de acordo com nossa humanidade. É esse o caso do poder da africanidade e ancestralidade, ou ainda, o Ankhcestral, filosofia de vida afrocentrada que, como anuncia o nome, une a fonte de vida, nossa energia, à força representada por aqueles que vieram antes de nós e que compõe a vida presente.

Nesse sentido, o Ankhcestral envolve princípios como a corporeidade, ideia que incentiva a exercitação do corpo em vista de uma produtividade pessoal e afetiva, a favor do bem-estar; a memória, a partir da qual a gente pode estimular o registro e observação tanto sobre nosso entorno quanto a trajetória de vida que é nossa própria e também coletiva, assim mantendo em vista a autovalorização; e o princípio central da energia vital, ou melhor dizendo, axé, a força que é espiritual e nos revigora e move em direção à autorrealização.

Em maio, a apresentadora Priscila Xavier, do programa TPM - Tempo Para Mim, recebeu Gabrielle Monteiro, pesquisadora em Psicologia Afrocentrada. A partir da proposta de um TPM prático, que convida a uma ação de autocuidado que é bastante simples, mas transformadora, as duas bateram um papo sobre o valor e potencial de uma rotina afrocentrada. Confere abaixo um trechinho:
 

Priscila Xavier: Tem uma frase também que você colocou, Gabi, que eu queria que você pudesse falar mais para quem está nos ouvindo, que fala: se potencializar para não dispersar. Eu achei muito forte essa frase, uma reflexão. Queria que você pudesse contar o que ela tem a ver com essa Rotina Ankhcestral.

Gabrielle Monteiro: Se potencializar para não dispersar são essas estratégias e tecnologias que a gente recupera e se reconecta para justamente cada vez mais encontrar veículos curativos. Aqui, trazendo a dimensão do trauma, de alguma forma a gente se movimenta pelos nossos traumas também, consegue sair desses trilhos e o tempo todo andar em círculos nessas feridas. Então, a cura é o movimento espiralar em volta das feridas, é o movimento de toda hora conseguir se puxar para dentro e para fora. Então, se potencializar é justamente cada um desses princípios da ancestralidade e da africanidade que a gente pode engrandecer e agenciar na vida, dando conta do que é a vida.

Priscila Xavier: Enquanto mulheres negras, a gente traz isso para a nossa rotina, de pesquisar e honrar essa ancestralidade, a gente sabe como é potente, principalmente para quem está em diáspora ainda. Então, ter essa reconexão faz muito sentido. Queria que você pudesse deixar um recado a partir de sua própria reconexão. Porque, em outros momentos aqui no TPM, outras psicólogas que participam relatam como ainda, na academia, é esse olhar eurocentrado que permeia diversos espaços. E você fazer essa escolha, de pesquisar ancestralidade africana e trazer isso para nossa rotina, como é importante para a gente tentar ter esse olhar e cuidado de forma mais integral conosco, com quem veio antes e com quem virá depois de nós.

Gabrielle Monteiro: De alguma forma, ter esse próprio espaço que a gente tem aqui é um território. A territorialidade é um princípio da africanidade que convoca a gente a construir territórios existenciais possíveis, lugares para pertencer, para se sentir bem, chão para pisar. Então, esse espaço é um chão para eu pisar, falar, poder existir, e ver que o trabalho, o estudo, que não é fácil, é um caminho que às vezes parece contra a maré, mas eu sei que a maré certa é a que leva a gente para casa.

Durante a conversa, Gabrielle Monteiro destacou que, enquanto todas essas dicas e princípios podem ser praticados e introduzidos aos poucos em nosso cotidiano, eles servem para formar um autocuidado que é integrado. Afinal, em essência, como ela deixa claro, a nossa espiritualidade reúne os nossos sentidos e emoções, coordenando a vida para um caminho que pode ser de grande crescimento e realização, seja pessoal, familiar ou comunitário.

Para acompanhar mais de seu trabalho, como disse ela, “uma psicologia que tem um viés curativo pensado para pessoas pretas, pessoas que buscam a ancestralidade, que é esse encontro transatlântico”, você pode acessar seu conteúdo no Instagram @perankhterapia.

 

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Ficou a fim de escutar a entrevista na íntegra? Clica aqui pra conferir. Lembrando que o #TBT101 é uma coluna em que, toda quinta-feira, vamos relembrar entrevistas e programas massas e importantes que já rolaram na programação da rádio pública do Recife.

Todas as  entrevistas ficam disponíveis na sua plataforma de streaming favorita (Spotify, Deezer, Castbox, Google Podcasts, Anchor ou Mixcloud, além do YouTube).

 


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