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#TBT101 A importância da linguagem acessível na comunicação pública

06.02.25 - 13H29
Print da roda de conversa na Uninassau

Da esquerda para a direita, Carol Araújo, Silvannir Jaques e Rafael Souza, em 2024.

 

Por Mateus Paegle

Quando falamos de comunicação pública, podemos afirmar, sem dúvida, que um dos seus principais compromissos é o de promover a democratização do acesso à informação na sociedade. A partir dessa responsabilidade, o uso, por parte dos profissionais da comunicação, de uma linguagem acessível, que facilite o entendimento das mensagens para a maioria das pessoas que as recebem, é um elemento indispensável. Com base na importância desse empenho, o #TBT101 desta semana escolheu recordar a Roda de Conversa preparatória para o 1º Seminário Regional de Comunicação Pública e Cidadania, realizada e transmitida pela Frei Caneca FM em parceria com a ALEPE e a ABCPública, na UniNassau.

Realizado no dia 17 de outubro de 2024, o evento teve como tema “Linguagem simples e acesso à informação” e contou com a participação dos jornalistas Rafael Souza e Carol Araújo, com mediação de Silvannir Jaques, jornalista e diretora da ABCPública PE (Associação Brasileira de Comunicação Pública). Os debates tiveram como eixo central a produção de novas perspectivas para a comunicação pública através do uso da linguagem simples e acessível, passando pelo direito dos cidadãos à informação e o compromisso do comunicador com a promoção da democracia e do bem estar coletivo.

Confira um trecho da conversa: 

Rafael: Falando sobre a comunicação pública, o título da fala que eu pensei foi justamente “Acesso à informação é um direito humano”. Na Declaração Universal dos Direitos Humanos, uma parte do texto diz que “todo ser humano tem direito a liberdade de opinião e expressão, este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios, independentemente de fronteiras”.

Ou seja, o que está escrito é que todo mundo tem o direito de informar e ser informado. Quando a gente se informa sobre nossa realidade, a gente adquire maior capacidade de saber como agir naquela realidade, tanto em nosso benefício, de forma ética, como em benefício de ideias para o coletivo. Então quando você pensa em ter acesso a informação, no futuro, você vai recolher essas informações e vai conseguir fazer leituras mais amplas da realidade. Especialmente para nós que trabalhamos com informação, seja no jornalismo, publicidade, relações públicas ou cinema, a gente precisa ser muito informado (...)

Quando falamos sobre comunicação pública, rapidamente pensamos na comunicação que é realizada pelas instituições públicas, mas não são só as instituições públicas, tem ONG’s, tem organismos internacionais, muitas vezes tem vaga na ONU e todo esse sistema, então é uma área de comunicação muito aquecida mesmo. E aí, isso diz respeito ao conceito mais comum de comunicação pública, que se refere aquela comunicação empreendida pelo estado e norteada pelo interesse do cidadão ou da cidadã. Só que eu queria ampliar um pouco esse conceito de comunicação pública e entender como nós, mesmo independentemente de onde estejamos trabalhando, podemos ter uma visão de comunicação pública, essa visão que respeita a sociedade. que tenta incluir, essa visão que está preocupada com o bem estar coletivo.

Em tese, que trabalha com comunicação pública precisa estar ouvindo as pessoas o tempo inteiro para saber quais são os seus interesses (...) precisa entender o que está mais urgente, o que está pedindo mais atenção, para poder focar nessas questões e, no país que vivemos, sabemos que existem muitas questões sociais que estão o tempo inteiro gritando, tem muitas pessoas em situação de vulnerabilidade. Então a comunicação pública, aqui no Brasil, na maioria das vezes, ela se ocupa dessas questões mais urgentes, que são realmente aquelas questões que podem mudar a vida das pessoas, o bem estar das pessoas. O interesse do cidadão pode ser bem amplo, mas na comunicação pública se diz que é o interesse relacionado aos direitos, aos deveres, ao acesso a serviços, a promoção da democracia e ao bem estar coletivo (...)

Aqui eu vou fazer uma provocação sobre a ética e a acessibilidade na comunicação pública através de um exemplo (...) digamos que você faz um texto sobre uma comunidade quilombola, você para, lê o texto e pensa: “será que uma pessoa que está lá nessa comunidade quilombola vai pegar o meu texto e vai entender tudo o que eu quis dizer?”, isso é uma pergunta ética e a resposta mais ética é sempre aquela que beneficia o coletivo (...) Eu trouxe aqui um texto curto, mas que vou ler para vocês porque acho que é interessante: “O compromisso ético de cada comunicador, de cada comunicadora e de cada instituição em divulgar informações verídicas, de amplo interesse da sociedade em linguagem acessível ao diversos públicos e culturas, a dedicação a fazer mediações, a promover o entendimento e o envolvimento das pessoas com a realidade em que vivem, esse é um compromisso com a democracia”.


Carol: Eu vi Rafael falando sobre a comunicação pública e como vocês talvez não estejam se sentindo parte disso (...) eu queria que vocês entendessem que estão sim no processo de comunicação pública, vocês podem estar (...) Então, vamos lá, com é que eu cheguei no tema da linguagem simples (...) Eu conheci a linguagem simples num seminário, em 2022, e aquilo ali abriu a minha cabeça de uma forma incrível. Eu sou servidora pública há 14 anos e me inquietava muito o fato de que eu estava fazendo comunicação, escrevendo meus textos para pessoas que conhecem do direito e da defensoria, mas não sabia se aquilo chegava na população. Me perguntava: “será que a população lê o meu texto e entende o que eu estou falando?” Não, não entende e você percebe isso no próprio dia a dia do trabalho, quando você precisa falar com a população mais carente, que é o público alvo da Defensoria Pública da União em Pernambuco. Então aquilo me inquietava muito. No seminário que eu foi, sobre linguagem simples, eu vi uma palestra de um pessoal do Ceará, do Íris Gov, e fiquei completamente apaixonada. Eu saí de lá dizendo que eu iria estudar linguagem simples, porque fazia muito sentido para o meu trabalho. Logo depois tentei um mestrado na UNICAP e passei, então comecei a estudar a linguagem simples na parte de Estudos da Linguagem lá da UNICAP (...) Eu queria aqui trazer uma questão sobre a comunicação, que é a seguinte: a comunicação só se efetiva quando o emissor passa uma informação para o receptor e o receptor capta. Quando se usa uma linguagem difícil, o receptor vai captar? Não vai, não vai ter comunicação. Quando a linguagem é difícil o receptor com baixa escolaridade vai compreender a informação? A comunicação será efetivada sem a decodificação pelo receptor? Não vai, não vai existir comunicação. Ele não vai compreender.

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Confira essa apresentação na íntegra através do nosso canal no YouTube. Toda quinta-feira publicamos a coluna #TBT101, onde o ouvinte relembra entrevistas importantes que a 101.5 trouxe na grade de programação.


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