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#TBT101 - 15 anos de Azul Claro, com Isaar

21.07.22 - 11H35
Isaar

Foto: Divulgação


Por Johnny de Sousa


A gente tem noção de que há um disco clássico na nossa história quando sua celebração, como obra, colide com a existência do seu artista. Pode-se dizer, portanto, que no mês de fevereiro, em 2006, foi lançado um disco clássico de uma artista clássica. Isaar de França, ou apenas Isaar, lançou Azul Claro, seu primeiro disco solo, adubador de suas futuras sementes que logo se tornaram extensivas raízes.

Proliferadas em um chão extremamente rico, antes pisado por bandas como Comadre Fulozinha e Eddie, Isaar planta canções de coragem, amor e ancestralidade, podendo este último tema ser relacionado às deusas, astronautas ou ao “ser mulher”. Isaar mostra que, além de sua conexão com suas origens, viu evoluir uma geração de artistas companheiros, ficando cada vez mais lisonjeada com suas influências advindas da mesma geração da cantora.

Em comemoração aos 15 anos do álbum, a apresentadora do BR-101.5, Gabriele Alves, teve uma conversa emocionante com a cantora, realizada no dia 30 de março de 2022. Neste dia, em comemoração ao aniversário do álbum, aconteceria um show especial em nome deste grande documento da música pernambucana. 

Gabriele: Eu venho falando aos ouvintes desde sempre que a vida de artista, por mais fascinante que seja, é sempre mais difícil do que parece. É muito importante que haja projetos do governo voltados para a elaboração de editais e distribuição de fundos para projetos artísticos, pois é dessa forma que essa classe tão importante consegue sobreviver. Afinal, artista paga conta, sim! Aí eu queria que você me contasse se houve alguma mudança dentro desses apoios dados pelo poder público, dentre outros.

Isaar: Ah, mudou sim. Na época, o Azul Claro recebeu apoio de algumas organizações, e, mesmo com a grana relativamente curta, ainda conseguimos fazer algo ao nosso gosto. Em uma época em que gravar de tal forma não era comum, conseguimos fazer boa parte do álbum em um home studio, com o dinheiro dos editais ajudando muito na produção. Porém, hoje em dia é muito mais fácil gravar em casa do que na época, então muita gambiarra foi feita (risos). A gente gravava bateria nas três horas que tínhamos dentro de um estúdio de ensaio. Mesmo assim, com todo esse improviso, eu fico feliz com o quanto as pessoas abraçaram o “Azul Claro”, já que na época da produção estava bem insegura em como seria a recepção do projeto. 

Gabriele: Outra diferença bem gritante é em relação à distribuição do disco né, Isaar? Você começou vendendo o disco em CD, com o pessoal indo atrás pra comprar, e hoje em dia tá tudo disponível, gratuitamente, nos streamings. 

Isaar: Esse é outro motivo de eu tá revivendo esse disco! Voltando pra época, é louco demais ver como tudo mudou, pois antes eu vendia os discos diretamente para as lojas, subia no ônibus e fazia a propaganda… E atualmente eu já tenho toda a minha discografia no Spotify, o que fez com que muitas pessoas, de novas gerações, conhecessem meu trabalho. Alguns artistas parceiros, que são até mais novos do que eu, começaram a pegar referências que eu tinha e que consegui apresentar através das minhas músicas. Então, eu mostrava que ouvia Lia de Itamaracá na juventude, enquanto eles ouviam, sei lá… Iron Maiden (risos).

Gabriele: Assim como Lia, Dona Cila e dentre muitas outras, você mostrou muita coragem e força de vontade ao querer gravar um disco naquela época, Isaar. Você, como mulher negra, que inspira tantas outras, traz uma força ainda maior para a música pernambucana, visto que és uma artista tão representativa.

Isaar: Pois é, mas nunca foi algo fácil, sabe? Hoje, eu fico muito feliz em ver um tanto de cantoras que produzem seus discos e conseguem aparecer na cena, mas eu sei que nunca é algo que dá pra fazer só. Agradeço aos meus amigos, que chegaram junto e me ajudaram a produzir, não só o "Azul Claro”, mas uma boa parte do meu trabalho. De primeira, foi difícil me entender como referência para outros artistas, mas eu tive que voltar meu pensamento para o macro e ver que, de fato, ninguém começa se percebendo dessa forma. Eu me pego lembrando de outros projetos meus, anteriores à carreira solo, onde eu exaltava muito as primeiras mulheres que eu ouvi, musicalmente falando, e carreguei como influência até hoje. Acredito que até pra elas não foi fácil se ver como uma influenciadora musical, portanto é um trabalho que eu tenho que fazer bem aos poucos, dentro de mim. Mesmo assim, é uma satisfação enorme saber que eu, uma artista, mulher e preta, sou referência para tantas outras.

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Isaar segue a entrevista clamando essa ancestralidade que permeia sua música usando como referência a canção “Take a Mothership", em que se refere à sua nave mãe como a música de outras divas da música brasileira, como Lia de Itamaracá, Thelma do Coco e Cátia de França. Relembrar o “Azul Claro” também é um exercício futurista, colocando Isaar como uma nave mãe que embarca nos planos do futuro para diversos e diversas artistas que buscam uma influência genuína.

Ficou a fim de escutar a entrevista na íntegra? Clica aqui pra conferir. Lembrando que o #TBT101 é uma coluna em que, toda quinta-feira, vamos relembrar entrevistas massas e importantes que já rolaram na programação da rádio pública do Recife. 

Todas as  entrevistas ficam disponíveis na sua plataforma de streaming favorita (Spotify, Deezer, Castbox, Google Podcasts, Anchor ou Mixcloud.)

Vem de carona com a gente pelas estradas da cultura!


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