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#TBT101 - O resgate e a acessibilidade socioculturais na websérie “Mandinga na Beira do Rio”

26.01.23 - 09H07
Websérie Mandinga na Beira do Rio

Imagem: Reprodução/Projeto Malê

Por Luiz Rodolfo Libonati


“Nascido na beira do rio, criado na beira do mar”. Narrativa feita a partir de três nomes marcantes – mestres Butica, Marreta e Deca –, a história abordada na websérie “Mandinga na Beira do Rio” explora a trajetória de vida e a capoeiragem de seus personagens para revelar uma história que é coletiva. Mais do que revelar, na verdade, faz resgate de memória. A partir da oralidade dos três mestres, surge em imagem e som um potente registro sociocultural.

Além da capoeira no município baiano de Juazeiro, a produção também toca nos pontos da política pública voltada ao incentivo cultural e do ensino obrigatório da história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas brasileiras. Idealizado em 2019, “Mandinga na Beira do Rio” foi viabilizado após dois anos por meio do edital Prêmio de Cultura Lei Aldir Blanc – Culturas Identitárias. Em sua divulgação, tem sido distribuído também nas escolas municipais de Juazeiro.

Em agosto de 2021, a roteirista e diretora Mayane Santos foi convidada ao programa BR-101.5 para conversar com Gabriele Alves a respeito da websérie e da importância da acessibilidade cultural, em cuja realização as políticas públicas de apoio aos agentes culturais se provam fundamentais. Confira um trecho da entrevista:

Gabriele Alves: E aproveitando que a gente falou sobre isso agora, do poder público, você estava falando que o projeto nasceu em 2019, não tinha recurso para vocês conseguirem registrar essa história e, agora, o projeto foi tirado do papel de fato por meio de recursos do edital Prêmio de Cultura Lei Aldir Blanc - Culturas Identitárias, de Juazeiro (BA). Você que ouve sempre o BR-101.5, já vem acompanhando vários projetos que foram lançados pela Lab, porque foi um projeto a nível nacional, e aí, lá de Juazeiro, a gente tem o “Mandinga na Beira do Rio”, que é uma lei, a Lei Aldir Blanc, que é de incentivo cultural de financiamento público. Então me diz, Mayane, aproveitando que a gente chegou nesse ponto, qual é a importância do poder público ir direto na cultura popular para a gente ter a manutenção da nossa história?

Mayane Santos: Eu digo que a Lei Aldir Blanc foi crucial para esse trabalho ter sido realizado. Foi através desse recurso que tornamos possível a concretização de um sonho que nasceu em 2019. Eu acho que, sem ele, a gente não teria conseguido lançar isso agora, talvez passasse mais um tempo na gaveta. E, também, é uma lei que possibilitou a realização de muitos outros trabalhos aqui na região, também junto com muitos outros mestres da capoeira daqui. Mas também faz a gente refletir um pouco sobre a questão do acesso, a facilitação do acesso para que esses próprios mestres antigos possam acessar de forma direta. Porque às vezes eu paro e fico refletindo: Poxa, precisou dar toda uma volta para que pudesse chegar até eles. Passar por mim, passar pelo projeto, para só então chegar até eles. 

Então eu acho que é algo que deve ser pensado pelo poder público, deve ser pensado ao se elaborar políticas públicas, a questão mesmo do acesso e de quanto essas pessoas antigas, esses mestres antigos, podem acessar sem tantas dificuldades esse recurso que é tão importante e que é crucial para a manutenção dessas culturas populares, que não são tão valorizadas pelo público de um modo geral e pelo Estado. Então é importante, é necessária, eu espero de verdade que uma lei que é emergencial acabe se tornando constante e acessível para nós, para todos os artistas, mas que também se pensem estratégias justamente para torná-la mais abrangente.

Gabriele: Com certeza. Perfeitamente. E eu gosto sempre de reforçar aqui, no BR-101.5, que essa lei, Aldir Blanc, que é uma lei de caráter emergencial, como Mayane tá falando, criada durante a pandemia, foi uma conquista da própria classe cultural, que foi lá e cobrou do poder público ações para que a cultura não morresse nesse tempo. Então se você, que está aí ouvindo esta entrevista agora, tem absorvido tantos projetos culturais que foram proporcionados pela Lei Aldir Blanc, você tem que apoiar mais ainda, assistir o “Mandinga na Beira do Rio” no canal do Youtube do Projeto Malê, para reforçar e mostrar para o Poder Público que as pessoas querem sim consumir isso, elas querem sim fazer parte dessa história e contar com esse registro que é tão importante. E ainda eu reforço algo que Mayane trouxe, que é a acessibilidade dessas leis de incentivo para a cultura popular. A gente precisa de leis menos burocráticas, gente. E aí que bom que tem pessoas que estão aproximando a cultura popular dessas leis de incentivo, dessas políticas públicas, como é o caso de Mayane. Teve uma hora que ela fez assim: “A gente conta, quer dizer, não, eles contam”, mas vocês contam sim. Que importante, essa equipe! 

Vou até aproveitar este momento para trazer a ficha técnica do projeto, que é sempre muito importante a gente reverenciar quem estava botando a mão na massa. Então, “Mandinga na Beira do Rio” tem o roteiro e a direção de Mayane Santos; a pesquisa de João Borges; o assistente de direção é Cleriton Alves; montagem de Vinícius Colares; câmera de Vinícius Colares, Cleriton Alves e Felipe Rhein; a produção é do Projeto Malê; artes gráficas de Enoque Júlio; produção de conteúdo para mídias sociais de Beatriz Granja; assessoria de imprensa de Thiago Santos; fotografias são de arquivo pessoal e Museu Regional do São Francisco; a música de abertura é do Professor Luciano, do (grupo) Grãos de Areia; a trilha sonora tem Wagner Barbosa (Muzenza), Rosemberg Junior (Caboclo), Ayo Heru, Laiane Amorim, João Borges, Fernanda Victória, Matheus Brian Débora Souza, Anderson Fernandes, Joanna Granja, Erick Barbosa e Jayllane Araújo. 

Que importante isso tudo e toda essa galera se juntando por um objetivo tão massa, que é a gente ter esse registro, e você, que está aí do outro lado do rádio, poder assistir e acompanhar a história da Capoeira Angola, em Juazeiro, de qualquer lugar do mundo. Muito acessível. E aí teve outra coisa sobre por onde está passando essa websérie que eu fiquei impactada, porque isso é incrível. Vocês, além de distribuírem pela internet, no canal do Youtube do Projeto Malê, também vão distribuir a websérie dentro das escolas municipais de Juazeiro, não é isso, Mayane? Me conta.

Mayane: É isso. Uma das propostas de “Mandinga na Beira do Rio” é que o acesso seja facilitado e amplo. Então, além de disponibilizar na internet, o que por si só já era um objetivo, a gente resolveu distribuir nas escolas municipais aqui do município justamente por entender que é uma história que precisa estar dentro das escolas e também para fazer valer a lei, que determina que a cultura e a história afrobrasileira e africana precisa estar dentro do ambiente escolar. Então foi a forma que a gente encontrou de contribuir para isso e fazer essa história continuar viva, para os mais jovens, para as gerações seguintes.


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Ficou a fim de escutar a entrevista na íntegra? Clica aqui pra conferir. Lembrando que o #TBT101 é uma coluna em que, toda quinta-feira, vamos relembrar entrevistas e programas massas e importantes que já rolaram na programação da rádio pública do Recife.

Todas as  entrevistas ficam disponíveis na sua plataforma de streaming favorita (Spotify, Deezer, Castbox, Google Podcasts ou Anchor).


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