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#TBT101 Mês da Visibilidade Lésbica: Rayssa Dias e o bregafunk recifense

15.08.24 - 14H37
Rayssa Dias
Foto: JEZZ MAIA

 

Por Mateus Paegle


Neste mês que marca o Dia do Orgulho Lésbico e o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, a Frei Caneca FM dedica a coluna semanal #TBT101 a relembrar algumas de nossas entrevistas já realizadas com mulheres lésbicas. Nesta edição, vamos relembrar a entrevista feita com Rayssa Dias, no BR-101.5. 

Rayssa Dias é uma mulher negra e lésbica, MC, cantora e compositora da cena do bregafunk pernambucano. Criada no bairro de Salgadinho, em Olinda, a artista é considerada uma figura proeminente no brega desde 2015, tendo iniciado no Bregafunk com o single “Fica na Tua” e posteriormente lançando hits de sucesso como “Nós é a Gestão”, “Os Tralhas Vão Te Pegar” e “Sentada da Deusa.

Na conversa com Gabriele Alves, Rayssa falou sobre seu então recém lançado e primeiro EP, intitulado “Independente”, que foi ao ar no dia 12 de abril, contando com participações especiais e festa de lançamento. Rayssa também contou mais sobre sua carreira, projetos pessoais e as gravações para o projeto “The Beat Diaspora” e para a série documental “Favela.doc”, que teve um episódio inteiro dedicado à carreira da cantora. O programa foi originalmente veiculado no dia 24 de abril de 2024.

Gabriele: Vamos começar já falando dessa emoção, porque eu sei que há muito tempo atrás você já queria lançar EP, mas agora chegou a hora. Como é que é botar no mundo?

Rayssa: Então, tudo começou há 3 anos atrás com o AfroPunk, que foi em 2022, mais ou menos isso, e aí eu tive a vontade de mudar, sabe? Acho que o AfroPunk foi uma grande virada, 2022 foi uma grande virada na minha carreira, né? Eu estava com músicas estouradas e tudo mais, andando pra caramba, fazendo muitos shows, viajando pra caramba. E aí eu pensei: o que é que eu posso fazer para alcançar patamares do tipo Ludmila, que estava dividindo palco junto comigo, Karol Conká e vários outros artistas gigantes. Comecei a perceber que esses artistas trabalham com álbum, que eles trabalham com EP’s, e aí eu disse: “quero fazer o meu, quero fazer algo diferente, quero fazer a diferença para as mulheres que eu represento também”. E aí veio isso, eu saí da produtora que eu estava antigamente, me afastei de várias coisas, do meio ambiente do brega em si, e foquei no que eu queria. Nesse período de 3 anos eu escrevi 3 EP’s e aí fui lançando “Pegando Fogo”, que é uma música LGBTQIA+ que eu fiz para as minhas sapatões, que era uma música de um EP que era chamado “Movimento”, onde a ideia era falar sobre esse movimento que eu estava fazendo, mas não sabia eu que ali era só o início de um processo. E aí escrevi umas 12 músicas na época, fiquei focada mesmo em fazer isso, fiquei 1 ano focada. Até que eu vi que não veio a oportunidade. As pessoas que eu achei que acreditariam no meu corre não acreditaram, não botaram fé, e eu também não acho estranho, porque comecei sozinha, não era isso que ia mudar quem eu era. E aí fiquei pensando que uma hora ia surgir uma oportunidade e o álbum vai acontecer. Foi quando veio o documentário “Favela.doc”, e eles sugeriram disponibilizar uma verba para o documentário, pra eu fazer, e só pediram pra eu fazer um feat com um artista para eles gravarem. E aí olhei pra grana e pra o que eu queria e disse: “esse é o momento certo”. E aí todas essas músicas que lancei no EP foram feitas em 1 semana. No final do mês de março gravei todo o EP em 1 semana. Convoquei todos os artistas, fiz uma reunião com meu empresário e criei todo cronograma, montei toda a equipe e fiquei enviando o cronograma pra eles, pra todo mundo ir acompanhando, e fui fazendo todas as demandas para cada um fazer cumprir sua função e eu não ficar tão sobrecarregada.

Gabriele: A gente falou sobre você estar dentro do Favela.doc, que é dirigido pela cineasta baiana Viviane Ferreira, que inclusive dirigiu “ÓpaíÓ 2” e aí a gente também citou o The Beat Diaspora, então você tem representado o Bregafunk e falado pelo Bregafunk, tendo sido pioneira, sendo essa mulher preta que está sempre aí fazendo os lançamentos e dentro desse espaço que é desafiador para a mulher e, para a mulher negra, ainda mais. Como é falar pelo Bregafunk em produções como essas, Rayssa?

Rayssa: Caramba, algumas pessoas me perguntam muito sobre isso, sobre como é que eu vejo tudo isso. Eu vejo mesmo como história. As vezes acho que poderia existir mais reconhecimento pelo movimento Bregafunk. Eu trago muito isso, essa fala sobre o poder que o Bregafunk tem, sobre como o Bregafunk tem o poder de mudar vidas, sabe? De mudar até a percepção de como a gente vê a realidade, de empoderar pessoas que vem da periferia, principalmente as periferias de onde a gente vem. E não ter tanto reconhecimento às vezes me pega um pouquinho. Às vezes me pego assim: “caramba, eu poderia tá vivendo diferente, poderia ser diferente”. Mas também acho que ter a capacidade de chegar e falar sobre o movimento requer uma maturidade muito grande, uma consciência enorme. Então para falar e fazer todas essas produções a gente segue um roteiro. Foi incrível ter conversado com Viviane (Favela.doc), ela é uma mulher que quando fala faz a gente chorar, pelo amor de deus… ela faz a pessoa chorar, ela me fez falar sobre várias produções musicais minhas, entende? Foi incrível ter trabalhado com ela. O “The Beat Diaspora” foi um trabalho nacional, né? Foi feito no Youtube junto com a KondZilla. Então foi um trabalho que teve uma visibilidade internacional, não só nacional. É um trabalho muito bom, porque ele traz todo esse rolê da periferia e de como o Bregafunk se mantém até os dias de hoje, sabe? Como foi que surgiu, quem foram as pessoas e quem foram os artistas que continuam trazendo essa relevância. Eles inclusive me fizeram tocar com Dadá Boladão também, sabe? Foi um rolê muito incrível de ter participado, de ter sido host. Foi surpreendente, porque quando o “Diaspora” aconteceu , quando veio a proposta, eu não sabia qual era a proposta, eu estava trabalhando de balconista numa padaria. Então quando a proposta veio eu ia pro trabalho me perguntando: “será que acabou? será que agora vou viver só disso?”. Então depois de dois meses de trabalho e carteira assinada, chegou a mensagem de Rogan, era Rogan na época, ele disse: “Oi Rayssa Dias, tudo bem? Queria convidar você para participar de um Documentário e a gente queria ter uma reunião com você. Com quem eu posso falar?”. Eu nem imaginava o que era e pensei: “Pô, mais um Documentário.. Caramba.. Não sei se tô animada pra isso não. Não sei se vão comentar sobre. Não sei se vai ter repercussão.”. Então mandei pra Zila, meu produtor, e falei “Resolve isso aí”. Mas aí Zila falou: “Tu sabe o que foi isso que tu mandou? É a galera da KondZilla”. E aí eu falei que era mentira e ele confirmou, falando pra mim: “Eles querem que tu seja host do documentário. Sai desse trabalho pelo amor de deus!”. Aí pedi demissão do trabalho e fui fazer o “The Beat Diaspora”, que foi incrível.

Confira essa entrevista na íntegra através do nosso canal no YouTube. Toda quinta-feira publicamos a coluna #TBT101, onde o ouvinte relembra entrevistas importantes que a 101.5 trouxe na grade de programação.


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