(Foto: Andréa Rêgo Barros/PCR - Acervo)
Por Luiz Rodolfo Libonati
Atuante desde 1994, a Casa Menina Mulher ilustra verdadeiro exercício de luta em defesa da cidadania, dignidade e demais direitos fundamentais de meninas, adolescentes e jovens adultas no Recife. A partir do esforço coletivo feminino, a ONG começou a trajetória com o atendimento às jovens que se encontravam vulnerabilizadas devido ao rompimento de laços familiares. Em 1998, a Casa tomou frente na prevenção da vivência nas ruas e do consequente ciclo de violência, gerando um espaço de acolhimento e proteção e impactando na vida de diversas pessoas vitimadas.
Com a proposta também de apoiar a independência dessas mulheres, a instituição realiza seu trabalho por meio do incentivo à geração de renda, com programa de voluntariado ligado ao artesanato e à comercialização desses produtos, assim como à formação educacional para jovens. Foi e é a partir dessa iniciativa que, ao longo de quase 15 anos, a Casa Menina Mulher alcançou mais de duas mil mulheres que hoje vivem um rumo seguro de vida, seja na formação acadêmica, seja no mercado de trabalho.
E foi em bate-papo no programa Calor da Rua que, em abril, a apresentadora Luizy Silva recebeu a coordenadora da casa, Lourdinha Sousa, para saber melhor o percurso impactante do projeto socioeducativo. Confira abaixo um trecho:
Luizy Silva: Lourdinha, você já me trouxe nesse momento inicial que a instituição é a única, aqui no Recife, que faz esse recorte de gênero. E a gente sabe que ser mulher é muito difícil, tem essa questão da vulnerabilidade social. Queria que você falasse um pouquinho dessa escolha. Por que vocês optaram trabalhar fazendo esse recorte de gênero, e qual a faixa etária com que vocês costumam trabalhar? São crianças e jovens mulheres, não é isso?
Lourdinha Sousa: Hoje, a gente trabalha com o programa de complementação escolar, que é o contraturno da escola. Essas meninas estão na faixa etária entre 6 e 18 anos. O que a gente oferece? Trabalhamos com três eixos: educação popular, cultura e arte, oferecendo a inclusão digital. Temos um laboratório de informática, temos uma biblioteca, onde é oferecida a oficina de leitura e letramento, porque, é importante destacar, a escolaridade é muito precária. Temos o grupo de terapia comunitária integrativa, que é trabalhado por uma arteterapeuta. Temos a oficina de pintura, que é um grande carro-chefe da casa, porque a gente traz a questão de trabalhar a pintura como instrumento pedagógico, de habilidade, de descoberta.
Temos também a oficina de formação política, porque a gente precisa preparar essa adolescente para que ela incida politicamente nos espaços de controle social e dentro dos seus territórios, da escola. Inclusive, nesse processo, estamos com uma adolescente que foi eleita, representando Pernambuco, para o CPA, a Comissão de Participação de Adolescente do Conanda, que é o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Além disso, a gente trabalha com cultura, nós somos um ponto de cultura, que foi um prêmio concedido pelo Ministério da Cultura, e que se chama Arte Afro Menina Mulher, em que trabalhamos com percussão. Aí, temos a percussão, a inclusão, a oficina também de cidadania.
Luizy Silva: Que é importantíssima também, né. Não dá para a gente fazer esses trabalhos sem trazer esses conceitos de cidadania, de gênero e de tudo mais, para você formar realmente um sujeito político.
Lourdinha Sousa: Exatamente. A nossa intenção, enquanto programa, é justamente fortalecer essa menina para que ela se perceba como sujeito de direito, que ela reescreva sua história diferentemente daquela com que aprendeu a conviver. Para que faça essa passagem com segurança, compreendo conteúdos, ampliando esse conhecimento para que possa replicá-lo.
No bate-papo, Lourdinha Sousa falou ainda da atuação da Casa Menina Mulher dentro das escolas. Nesse sentido, até este momento já foram feitos três ciclos de rodas de conversa, em parceria com três escolas. Com a iniciativa, é estimulado o debate acerca de assuntos como empoderamento feminino, as muitas formas de violência e o combate às mesmas, as vivências nas periferias e, não menos importante, o papel da informação na vida desses jovens.
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Ficou a fim de escutar a entrevista na íntegra? Clica aqui pra conferir. Lembrando que o #TBT101 é uma coluna em que, toda quinta-feira, vamos relembrar entrevistas e programas massas e importantes que já rolaram na programação da rádio pública do Recife.
Todas as entrevistas ficam disponíveis na sua plataforma de streaming favorita (Spotify, Deezer, Castbox, Google Podcasts, Anchor ou Mixcloud, além do YouTube).
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