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Relembre a primeira entrevista do BR-101.5 com Gabi da Pele Preta

03.03.22 - 16H06
Gabi da Pele Preta

No primeiro episódio do programa, a cantora afirma: “É politicamente estratégico falar através da música”. (Foto: Rafaela Amorim) 

Por Marcela Cavalcanti

Nesta terça, dia 1º de março, o BR-101.5 completou um ano na programação da rádio pública do Recife. O programa, apresentado por Gabriele Alves, está no ar de segunda a sexta, das 9h ao meio-dia, alegrando as manhãs da Frei Caneca FM com muita música, conversa e informação. Mas, por falar em bate-papo, vem cá, tu lembra quem foi a primeira convidada da nossa faixa de entrevistas? No #TBT101 de hoje, a gente volta lá pro primeiro dia, quando Gabriele Alves falou com Gabi da Pele Preta sobre o single e videoclipe Revolução, parceria da cantora com o músico Juliano Holanda.

Gabriele Alves: Primeira entrevista para o BR-101.5! Eu não sei nem se já tinha te falado do nome desse programa, mas acho mais do que maravilhoso trazer uma pessoa diretamente de Caruaru para estar dentro do BR-101.5. Gabi da Pele Preta está lançando “Revolução”, seu primeiro single com videoclipe. Eu sou suspeita pra falar...  Já vi Gabi se apresentando várias vezes e “Revolução” era uma das músicas que mais me instigavam porque tem um suingue super gostoso. Hoje a gente recebe Gabi da Pele Preta na Frei Caneca FM. Bom dia, Gabi!

Gabi da Pele Preta: Bom dia, Gabi!

Gabriele Alves: “De Frente com Gabi”, adoro!

Gabi da Pele Preta: É porque é tudo de igual pra igual. Bom dia, minha gente, que bom estar de novo na Frei Caneca depois de tanto tempo. (...)

Gabriele Alves: A música já começa com “Você me chamou pra dançar e eu fui / Que dançar é uma revolução”. Me conta a história dessa música porque eu sempre gostei muito dessa frase.

Gabi da Pele Preta: É muito massa pensar no processo de como essa música surgiu. Eu já cantei samba, já cantei em igreja (aprendi a cantar dentro de uma igreja), já cantei as coisas que tocavam na rádio quando alguém me chamou pra cantar em uma confraternização e eu nunca tinha cantado publicamente fora da igreja na vida. Nunca gostei muito das coisas que estavam em alta, mas enfim, era o mais fácil de fazer.

Comecei a me direcionar para esse caminho mais autoral, até que tive um encontro com a militância feminista. Aí o meu trabalho assumiu um outro caráter mesmo, porque eu entendi que musicalmente, aliás, que politicamente era estratégico falar através da música, porque a música chega onde às vezes a gente não vai chegar em uma conversa porque a outra pessoa é resistente. Implementou-se que política não se discute e é por isso que hoje estamos nesse contexto, nessa conjuntura.

Mas acabou que o repertório do show, apesar de muito dançante, foi ficando forte, contundente, e aí houve uma orientação da assessoria que a gente tivesse uma música que falasse de amor, esse amor mais convencional, mais romântico... Mais comercial, inclusive, eu diria, porque todo mundo escreve e consome sobre isso. Mas não era minha praia, e aí fomos ter uma reunião com Juliano.

Gabriele Alves: Juliano é Juliano Holanda, compositor?

Gabi da Pele Preta: Juliano Holanda. Isso, e que também produziu esse single. Aí na reunião diziam que tinha que ter uma música assim, e Juliano olhava pra mim, e eu olhava pra Juliano... Juliano foi pra casa e, meia hora depois, ele disse: “Olha essa música, vê se tu gosta”. E essa música era “Revolução”.

Gabriele Alves: Juliano é assim, né? Respirou fundo, saiu uma música.

Gabi da Pele Preta: É, menina. Ele fez essa música especialmente para esse projeto e “Revolução” acabou trazendo mesmo a leveza que o repertório precisava, muito embora quem se atenta de verdade ao show... Esses dias eu tava brincando, é uma mão na consciência mas é uma mão na cintura também.

Gabriele Alves: Rebolando com a mão na consciência.

Gabi da Pele Preta: Mas você dança o show inteiro! Não é um show triste mas é um show crítico, como tem que ser. Porque é isso, a gente passou muito tempo sem falar sobre coisas que eram muito importantes e muito urgentes e chegamos nesse lugar em que a gente não suporta se ouvir, sabe? Eu acho que é justamente nesse caminho que a música, a arte de maneira geral, é uma ferramenta muito importante pra gente retomar esses diálogos que não podem mais ser silenciados. A gente precisa falar de gênero, de raça, de pautas de vida. Essas pessoas estão morrendo todos os dias e a gente tá fazendo ouvido de mercador, “não discuto nem futebol, nem política e nem religião”. E estamos aí, né? Intolerantes religiosamente, completamente naufragados politicamente falando... E o futebol também não vai lá essas coisas, diga-se de passagem.

Gabriele Alves: A gente perde debate político, vai perdendo empatia e, quando vê, estamos isolados no nosso mundinho. E aí você traz na música, todo mundo dança junto e daqui a pouco a mensagem já entrou e a pessoa nem sentiu, já tá pensando diferente.

Gabi da Pele Preta: É por aí. Porque é isso, a música é essa coisa que não pede licença. Eu sempre utilizo como exemplo essa parada da gente muitas vezes cantar músicas que a gente sequer colocou no player alguma vez na vida. (...)

Gabriele Alves: “Revolução” também é um videoclipe. E aí, como é que foi?

Gabi da Pele Preta: Esse clipe foi o seguinte, estamos nesse momento, enfim, acho que a gente tem construído essa relação com o virtual há um tempo já, e essa coisa toda, esse cenário pandêmico, acabou intensificando tudo. Muita gente lançando muita coisa e a gente foi vendo também as reconfigurações acontecerem. Antigamente a gente assistia tranquilamente um vídeo de um minuto, hoje a gente não tem mais tempo, são 15 segundos... Isso é meio louco, a gente vai sendo programado sem perceber. É bem cruel.

Gabriele Alves: Nada se aprofunda, é tudo no superficial, curto e rápido...

Gabi da Pele Preta: Exatamente. A gente foi entendendo que as pessoas hoje precisam consumir imagem também. Que a música viria com mais força se ela tivesse imagem, porque tem gente que gosta de assistir. E aí a gente pensou: “Poxa, seria tão bom lançar um videozinho”. Inicialmente pensamos em fazer um vídeo em que as pessoas mandassem imagens dançando e a gente fizesse uma montagem bem dinâmica e que ficasse divertido, mas que entendessem que era um clipe provisório, só pra gente poder se ver porque já não estamos nos vemos mesmo. Só que eu tenho a minha trincheira aqui em Garanhuns, é Agreste mas é Garanhuns...

Gabriele Alves: Ela é de Caruaru mas ela finca o pé em Garanhuns porque tem um monte de gente ali junto com ela. (risos)

Gabi da Pele Preta: É porque o povo se agarrou e eu gostei! (risos)

Gabriele Alves: E o friozinho ainda ajuda.

Gabi da Pele Preta: Exatamente! Inclusive tô sendo produzida por Stephany Metódio, do Aldeia Tear, e a gente foi estreitando essa relação, chegando mais perto mesmo... A gente tava gravando outras coisas porque estavam mil e uma coisas, essa agonia de Lei Aldir Blanc, o povo gravando show, gravando clipe, num sei o quê... Aí Stephany disse: “Vamos fazer essas imagens tuas aqui?”. Então eu gravei em Garanhuns com Eriko Renan, que já estava captando todos esses shows e essas coisas... Como eu acredito que a revolução é preta e feminista, só quis chamar gente preta.

***

Quer escutar a história desse videoclipe até o fim? Confira a entrevista completa aqui! O #TBT101 é uma coluna em que toda quinta-feira vamos relembrar entrevistas que já rolaram na rádio pública do Recife. Sintoniza com a gente nas estradas da cultura!

Todas as faixas de entrevistas do BR-101.5 estão disponíveis na sua plataforma de streaming favorita (Spotify, Deezer, Castbox, Google Podcasts, Anchor ou Mixcloud).


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