O quadro #DiscodaSemana, que entrou na programação do Revista Difusora no mês de março, traz a cada semana um novo disco como destaque. A novidade, que abre o programa às 16h, de segunda a sexta, evidencia sempre uma nova produção musical, tocando uma música do disco a cada dia. Confira abaixo o texto de Patricktor4 sobre Rasif, álbum do pernambucano Amaro Freitas, que será apresentado ao longo desta semana:
Rasif é o segundo disco da carreira do pianista, tecladista, compositor e arranjador Amaro Freitas. O álbum foi lançado ao final de 2018, pelo selo britânico Far Out Recordings. Azymuth, Hermeto Paschoal, Marcos Valle e o também pernambucano Naná Vasconcelos são alguns dos importantes nomes que também tiveram suas obras lançadas pela gravadora inglesa.
Amaro Freitas é um jovem e promissor músico recifense, negro de origem periférica, que começou na música a partir do contato com instrumentos na igreja e por ver seu pai tocar. Alcançou bem cedo a maturidade musical. Hoje, ele – com 27 anos – e o seu trio estão no patamar dos grandes da música mundial.
Muito além do jazz e da música instrumental, Freitas desenha sua obra entre referências e provocações que levam sua sonoridade para longe do óbvio. Desde o inicio de Rasif, ele surpreende, quer seja com dedilhados fortes e agressivos, quer seja na suavidade melodiosa do baixo. Por mais que tenhamos, no Brasil e sobretudo no Nordeste, um imenso caldeirão musical, cair no lugar comum é algo muito fácil, mas, em momento algum, o disco do pianista parece perder o equilíbrio.
A percussão de matriz africana na obra de Amaro Freitas não vem da bateria e, sim, de suas teclas pretas e brancas, no groove do seu dedilhado, nas repetições, e nas tensões que levam a uma sensação de hipnose e nos deixam querendo sempre saber de onde veio essa virada, pra que rumo vai a próxima música. Forte, intenso e suave, Amaro Freitas conquista pela provocação.
Desde Sangue Negro, seu álbum de estreia, Amaro é acompanhado pelos ótimos músicos Jean Elton, no baixo acústico, e Hugo Medeiros, baterista. A coesão e sintonia entre os músicas é traduzida numa sonoridade única, com fortes influências de Capiba, de Moacir Santos, de Thelonius Monk, de Chick Corea, entre tantos outros monstros do jazz e da música de um modo geral.
Seria muito fácil dizer que Amaro Freitas faz de forma jazzística ritmos nordestinos, como o baião e o frevo. Em Rasif, ele e sua banda vão muito além - desconstroem os elementos que formam esses ritmos, redesenhando uma música instrumental brasileira com muito protagonismo criativo e personalidade, fugindo de todos os vícios.
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Posologia:
Encha sua casa de verde, escolha as plantas que melhor combinam com seu espaço, junte as ferramentas e utensílios para cuidar delas, coloque a faixa “Trupé” num volume que não incomode os vizinhos. Regue as plantinhas regularmente, volte sempre ao inicio do disco.
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Patricktor4, é DJ e Gerente de programação da Frei Caneca FM.
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