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#TBT101 | Iyadirê Zidanes destaca o silenciamento de pessoas negras no audiovisual

20.07.23 - 12H05
Iyadirê Zidanes esteve com Manoel Constantino em julho do ano passado no "Papo de Artista"

(Iyadirê Zidanes esteve com Manoel Constantino em julho do ano passado no "Papo de Artista")

Por Bárbara Bittencourt

Criado em 2013, pelo Odara - Instituto da Mulher Negra, o Julho das Pretas é uma agenda coletiva que visa ao “fortalecimento da ação política coletiva e autônoma das mulheres negras nas diversas esferas da sociedade”. O ponto alto da agenda é no dia 25, quando celebra-se o Dia Internacional da Mulher Negra Afro Latina Americana e Caribenha.

O Papo de Artista fez também uma agenda especial na temporada de 2022, trazendo entrevistadas e pautas especialíssimas ao longo de todo o mês. Uma das convidadas do apresentador Manoel Constatino foi Iyadirê Zidanes, cineasta, atriz e poeta da cidade do Recife, pesquisadora do silenciamento dos corpos negros.

Iyadirê Zidanes cursava letras, quando foi convidada a participar do curta-metragem “Noite Fria”, de Priscila Nascimento. Foi assim que se apaixonou pelo Cinema, percebendo-o por trás das câmeras e migrando de uma linguagem para outra, assim como de um curso para outro. “É uma potência de linguagem maior, o Audiovisual é mais abrangente enquanto linguagem. E eu trago Letras sempre, porque trabalho a análise do discurso corporal da pessoa negra, que está sempre em silenciamento”, disse a Manoel Constantino.

Curioso sobre a pesquisa de Iyadirê, que “aplica em sua poesia o encanto e a navalha que a palavra pode ser para desbravar tanto silêncio”, Manoel Constantino lhe perguntou como fazer com que o silenciamento ao qual os corpos negros estão submetidos se torne fala.

Iyadirê Zidanes: O silenciamento é um processo social, uma questão muito além de nossa dimensão individual, estamos falando de coletividade. E falando um pouco do silenciamento do corpo negro, principalmente em cena, o que me guia diante das minhas pesquisas é entender que, normalmente, pessoas negras não têm relevância narrativa, não interpretam personagens que se destacam. Mesmo quando não estão no papel de figurantes, esse silenciamento ainda é visto. Na faculdade, inclusive, vi alguns questionamentos de “como eu faço para colocar uma atriz negra no meu filme?”, e eu acho intrigante pensar que o outro terá que se “esforçar para”. Se existe uma atriz boa e você quer colocá-la no filme… acho que a questão não está em “como colocar”, mas no processo de entender que temos competência, estudo, potência e possibilidade de estar dentro dos projetos. 

Manoel Constantino: E entender que as pessoas têm histórias, e você pode criar histórias na ficção envolvendo, porque não, a negritude, por exemplo…

Iyadirê Zidanes: A ideia de protagonizar as narrativas é também “falar sobre”, é também tirar esse corpo da tentativa constante de falar apenas de sofrimento. O corpo negro, quando trazido em uma narrativa, é sempre muito violentado, trazido por meio de esteriótipos. A mulher negra, por exemplo, é trazida como uma guerreira, aquela que aguenta tudo, o que é um papel insustentável. Se você traz mulheres negras para protagonizarem essa narrativa, também é trazido veracidade, e veracidade, na linguagem, se torna um ponto de inspiração. O importante dos jovens pretos e pretas perceberem isso é mais por uma questão de conseguirmos nos expressar do que eu vir aqui dizer o que deve ser feito ou não. Eu acho que a juventude preta tem um potencial cultural muito grande, principalmente se falando de Pernambuco.

A poeta também fala da importância de valorizarmos as histórias das pessoas que vieram antes de nós, valorizando esse potencial do passado e do presente. A cultura negra é ancestral, e precisa ser valorizada como tal. Precisamos agarrar essa cultura e proliferá-la, e a mulher negra tem um papel fundamental nisso.

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Ficou a fim de escutar a entrevista na íntegra? Clica aqui pra conferir. Lembrando que o #TBT101 é uma coluna em que, toda quinta-feira, vamos relembrar entrevistas e programas massas e importantes que já rolaram na programação da rádio pública do Recife.

Todas as  entrevistas ficam disponíveis na sua plataforma de streaming favorita (Spotify, Deezer, Castbox, Google Podcasts, Anchor ou Mixcloud, além do YouTube).


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