(Lia de Itamaracá. Foto: José de Holanda/Divulgação)
Por Bárbara Bittencourt
Depois de um ano de tantas lindas celebrações da grandiosa Lia de Itamaracá, como a "Ocupação Lia de Itamaracá" e o ''Festival O Canto da Sereia'' – festa dos 80 anos deste Patrimônio Vivo –, 2024 coroa o amor recifense por esta figura começando o ano com uma reverência coletiva: Lia foi uma das homenageadas do Carnaval do Recife, a maior festa de rua em linha reta da América Latina.
No clima pós-carnavalesco, relembramos a entrevista feita no BR-101.5 por Alex Carvalho com Geisa Agricio, criadora da Websérie “Quem me deu foi Lia”, um desdobramento da Ocupação, e Isaar, convidada de um dos episódios. A Websérie articulou as temáticas de gênero e raça, convidando seis mulheres negras de diversos setores da cultura para falar sobre e com Lia, esta grande influência para gerações de artistas.
Alex Carvalho: Eu queria saber, Geisa, o que levou a escolha dessas seis mulheres para a Websérie?
Geisa Agricio: São pessoas que, de certa forma, não estão falando de um distanciamento dessa mítica de Lia, mas têm afinidade com os temas da vida e da obra dela que também tocam nelas de alguma maneira, para que faça sentido esse título “Quem me Deu foi Lia”, não é aleatório. A série foi pensada para trazer mulheres negras da cultura, com essa amplitude de não falar só de Lia no palco e na música, mas também como uma referência para a identidade cultural. [...] Então, acho que cada uma fala de um lugar diferente, porque conseguimos falar de Lia de formas infinitas. E o grande agradecimento que fazemos, o grande orgulho que temos de um projeto como esse, foi uma fala bem especial de Lia, dizendo que o que mais a emociona é sentir-se homenageada em vida. Isso é muito importante: ter uma exposição como essa, num espaço como o Paço do Frevo, no Centro de Referência, numa casa, num museu importante como o nosso, no lugar dela e de ela poder ver, de ela poder acompanhar. Ficamos felizes que estamos fazendo isso junto com ela. Falamos dela, mas com ela. Com distância, mas sobre ela, com aproximações, com abraços.
Alex Carvalho: “O que me deu foi Lia” é uma frase muito clássica. A gente lembra da ciranda que tem esse trecho, e que tem um significado muito importante na websérie, até porque não era muito fácil alguém me falar sobre Lia. Esse trabalho traz um recorte muito íntimo da relação entre a pessoa que é convidada e a própria Lia, não é uma coisa apenas falada, parece ser uma coisa sentida. Queria que você comentasse um pouquinho sobre isso e sobre como é que é sentir com Lia durante o episódio.
Geisa Agricio: Falando dos bastidores, tivemos um recorte muito interessante que é a equipe também ser de mulheres negras. Além da concepção, lá no Paço do Frevo, e de ter pensado nos nomes da série, junto com Anne Costa, nossa coordenadora da Escola Paço do Frevo, conseguimos fazer uma parceria com a Gira Conteúdo, a direção é de Luara Olívia e a produção de Bruninha Leite. Quando pensamos todo mundo junto, de ter mulheres negras nos espaços que ocupamos, eu acho que esse ponto fica mais sensível e aflora na tela. Tem muito também do olhar, da direção de Luara para trazer essa intimidade. Mas isso já foi pensado desde a seleção de nomes mesmo, de pessoas que não eram totalmente alheias ou iam falar de Lia com um recorte de crítica cultural. Elas foram convidadas para falar de “como é que uma obra de Lia me toca?” e passa também por “o que eu quero como artista no espaço cultural?”, “o que é que uma Lia de Itamaracá tem de significância para cada mulher negra que está no caminho, na trajetória da cultura?”. Então, acho que tivemos esse olhar de não ser simplesmente uma série de depoimentos, de recortes históricos falando da importância ou da relevância de Lia, porque eu acho que, como Isaar falou, ela está tendo esse reconhecimento, esses espaços, das exposições às escolas de samba. Acho que falar sobre Lia era o caminho mais simples, né? Mas como é que falamos de outras mulheres que têm vivências que também passam pelas coisas que Lia viveu de ser uma mulher negra no nordeste, num lugar mais distante de reconhecimento, e como é que essas mulheres também se fortalecem graças à existência de uma Lia? Então, eu acho que a felicidade é essa, de poder falar de outras mulheres pela magnitude que Lia traz para a cultura e para a vida delas.
As convidadas da websérie foram a mestra passista de Frevo Zenaide Bezerra, a cantora Isaar França; as Irmãs Baracho, cantoras da cultura popular que acompanham Lia; Maria Gabrielly Dantas, ativista de moda e criadora da casa sustentável Casa de Sal; a Rainha do Carimbó Chamegado Dona Onete; e a chef de cozinha e apresentadora Dona Carmem Virgínia.
A Websérie “Quem me Deu foi Lia”, está disponível no canal do Youtube do Paço do Frevo.
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Ficou a fim de escutar a entrevista na íntegra? Clica aqui pra conferir. Lembrando que o #TBT101 é uma coluna em que, toda quinta-feira, vamos relembrar entrevistas e programas massas e importantes que já rolaram na programação da rádio pública do Recife.
Todas as entrevistas ficam disponíveis na sua plataforma de streaming favorita (Spotify, Deezer, Castbox, Google Podcasts, Anchor ou Mixcloud, além do YouTube).
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