(Divulgação: Cena do Filme Rama Pankararu)
Por Luiz Rodolfo Libonati
Quando se desenvolvia a ideia do filme “Rama Pankararu”, filmado em 2019 e 2020 e registrador da história de resistência do Povo Pankararu, o diretor Pedro Sodré recebeu como indicação o nome de alguém para compor sua produção: a produtora cultural de longa data Bia Pankararu. A indicação não veio de qualquer pessoa, mas da antropóloga Paula Morgado, co-diretora do documentário de 2007 “Do São Francisco ao Pinheiros”, que também trata da experiência Pankararu e discute a migração sertaneja indígena para o sudeste.
Diante da proposta de uma produção que usa a ficção para abordar história e personagens reais, Bia Pankararu aceitou o convite recebido e ofereceu mais do que apenas a função de produtora. Buscando gerar a narrativa na maior potência possível, ela contribuiu com o roteiro e protagonizou o filme. O resultado desse esforço coletivo, que teve estreia mundial feita durante o 24° Festival de Cinema Brasileiro de Paris, no ano passado, é um longa premiado em categorias como Melhor Atriz e Melhor Longa pela Abraccine - Associação Brasileira de Críticos de Cinema.
Com história inserida no contexto da eleição presidencial de Jair Bolsonaro, o filme tem sua premissa na cobertura jornalística dos incêndios causados numa escola em 28 de outubro de 2018, dia da eleição do ex-presidente Bolsonaro. O trabalho de jornalismo retratado é fictício; os ataques criminosos contra o território indígena, assim como o povo que é apresentado a nós, não. Daí surge o fio condutor para Pedro Sodré e Bia Pankararu atravessarem as temáticas sociopolíticas e culturais envolvidas.
Para saber mais sobre, na quarta-feira do último dia 5, a apresentadora Gabriele Alves recebeu Bia Pankararu no programa BR-101.5 via videochamada. Você confere um trecho do bate-papo abaixo.
Gabriele Alves: Vamo simbora falar desse premiado longa-metragem. Já ganhou três prêmios: de Melhor Filme, pelo júri popular; Melhor Atriz, para Bia Pankararu; e Melhor Longa, eleito pela crítica da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), na 26ª edição do Festival de Pernambuco. Bia, como é estar dentro desse filme super premiado, para começo de conversa?
Bia Pankararu: É uma doideira, que eu ainda estou entendendo o que está acontecendo na minha vida. Todo esse processo de fazer um filme é muito desafiador. Eu venho das produções, antes de tudo, eu sou uma produtora cultural daqui do território, da região. Então, desde a adolescência, eu sempre estive metida em projeto, projeto cultural, projeto de fomento à cultura, vários projetos de Funcultura, enfim, e prêmios assim, desenvolvidos no território, ou a ver com o território, com a tradição espiritual, cultural, musical de Pankararu. Então sempre me foi muito normal estar na equipe dos outros, trabalhando na ideia, no projeto e tal. O filme foi um dos primeiros projetos em que eu botei a minha ideia, que botei ali, ao convite de Pedro (Sodré)... Olha, é uma história longa…
Na verdade, a história do filme começa com um encontro em um documentário anterior, chamado “Do São Francisco ao Pinheiros”, que é de Paula Morgado e João Cláudio de Sena, de São Paulo, pessoal da USP. Esse documentário fala sobre a migração dos Pankararu daqui do sertão de Tacaratu, Jatobá e Petrolândia para São Paulo nessa década de 1970, 1980, e aquela migração mesmo, pesada, para a construção civil. Daqueles sertanejos e a história do pau de arara? Então, pronto. Esse sertão foi muito indígena, tanto de Pankararu quanto de várias outras regiões daqui.
E esse documentário faz essa ponte do Rio São Francisco ao Rio Pinheiros, lá em São Paulo, onde foi fundada uma comunidade. Lá tem território demarcado como território indígena na margem do rio Pinheiros, na capital de São Paulo, e que começou como a favela da Mandioca, porque os Pankararu chegaram lá fazendo roça, querendo fazer casa de farinha. Naquela época tinha capivara, dava para pescar no rio Tietê. Olha só a época. Então os pankararus participaram da construção do estádio de São Paulo, do Morumbi. Então toda aquela grande riqueza de São Paulo teve muita mão Pankararu.
Para o documentário de 2007, época em que Bia tinha entre 12 e 13 anos de idade, a diretora Paula Morgado entrevistou sua mãe, a liderança do território e que passou justamente por esse processo migratório. Segundo a protagonista do “Rama Pankararu”, foram dezoito anos de sua mãe “indo e voltando, atrás de emprego, subsistência. Voltava, melhorava um pouquinho a casa aqui. Voltava e passava uma temporada lá”. Em meio a isso, nasceu ela, que viveu parte da primeira infância em São Paulo e, aos 11 anos, se mudou de vez para o território sertanejo de origem. Tudo isso compõe a história de Bia Pankararu, que agora, por trás e na frente da câmera, toma a frente da tarefa de reportar a resistência histórica de seu povo.
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Ficou a fim de escutar a entrevista na íntegra? Clica aqui pra conferir. Lembrando que o #TBT101 é uma coluna em que, toda quinta-feira, vamos relembrar entrevistas e programas massas e importantes que já rolaram na programação da rádio pública do Recife.
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