Crédito da foto: MercadosemPE.com
Por Luiz Rodolfo Libonati
Como diz quem gosta de viajar e turistar, se você quiser conhecer as particularidades da cultura de um lugar, vá ao mercado público. Patrimônio cultural material, é lá onde a gente encontra a história e identidade das populações locais em seu passado e presente: economia, arquitetura, gastronomia, artesanato e por aí vai. E, havendo acesso a um meio informativo que não apenas catalogue as diferentes áreas do tipo, como também centralize informação rica sobre, a experiência somente se potencializa.
Pois, para o bem da memória afetiva de todo cidadão pernambucano e o conhecimento de interessados, essa salvaguarda é feita também a partir do Mercados em Pernambuco. Com apoio da Secretaria de Cultura do Estado, o projeto é focado na informação, fotografia e mapeamento geográfico e tem realização da dupla publicitária e fotógrafa Eduardo Cunha e Lucas Emanuel.
Em fevereiro, no Calor da Rua, a apresentadora Luizy Silva recebeu Eduardo Cunha para conhecer melhor o trabalho de pesquisa e construção do projeto, cujo desenvolvimento se deu ao longo da pandemia da covid. Abaixo você acompanha um trechinho:
Luizy Silva: O mercado público em si, para nós, recifenses, vai além de um relato econômico, de um relato cultural. Ele traz muito de história, de memória. Eu acho que talvez tenha sido esse o incentivo que vocês tiveram para poder pensar num projeto como esse. Foi isso que te instigou também, pensar o mercado como esse lugar de memória e afetivo do recifense?
Eduardo Cunha: É verdade, Luizy. Eu particularmente frequento muito os mercados desde sempre. E uma grande dificuldade que a gente encontrava era de ter informações centralizadas sobre todos eles. Sobre a parte histórica, sobre como surgiram esses mercados, por que foram surgindo. E a partir disso, a gente submeteu o projeto ao Funcultura para fazer essa catalogação, e contemplou cinco mercados na capital pernambucana.
Luizy Silva: Quais foram os critérios que vocês utilizaram para escolher os mercados? Você falou que são cinco nessa primeira etapa. Diz aí, para os nossos ouvintes, quais são os mercados que estão agora no site.
Eduardo Cunha: O projeto contemplou cinco mercados, que são os mercados de São José, Boa Vista, Casa Amarela, Madalena e Encruzilhada. A gente levou em consideração que esses são os principais mercados e mais conhecidos da capital. E, o projeto em si, o recurso não é muito grande, não dava para abarcar todos os mercados, e aí existe realmente um projeto de ampliar esses mercados, trazer para outras cidades, inclusive, e quem sabe, no futuro, adentrar o estado.
Luizy Silva: Vamos falar um pouquinho do projeto de pesquisa. Eu sei que você está mais focado nessa parte da fotografia, na parte imagética do projeto, mas eu sou pesquisadora também e essa parte de pesquisa sempre me chama muito a atenção. Queria que você falasse um pouquinho da equipe de vocês. Teve um historiador que foi aí cavoucar um pouco da história. Como é que foi, quanto tempo levou para o projeto começar e findar?
Eduardo Cunha: O Thiago Nunes fez uma pesquisa sobre os mercados e, assim, é um projeto que foi aprovado no final de 2019. E aí veio a pandemia, a dificuldade de fotografar. Os mercados estavam fechados por anos, praticamente. E a pesquisa também ficou um pouco comprometida, vamos dizer, porque não dava para se pesquisar, entrevistar pessoas. Foi uma pesquisa muito mais baseada em fatos históricos do que numa pesquisa de campo, digamos. Então existem várias curiosidades.
Eu, como fotógrafo, quando estava no mercado da Boa Vista, conheci um senhor, comerciante antigo de lá, e o box dele é um box de família. E ele me contou que a família dele adquiriu esse box, que veio dos avós, bisavós dele, logo depois que o mercado deixou de ser um ponto escravista e aí se tornou um mercado público, o da Boa Vista. Então existem várias curiosidades que circulam em torno dos mercados. Os mercados públicos em si partiram de uma tentativa de ordenação de feiras livres. As feiras permanecem hoje em dia — do lado do mercado de Casa Amarela tem uma feira gigantesca que ainda existe —, mas tem essa curiosidade dos mercados terem surgido a partir daí.
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O aspecto imagético do Mercados de Pernambuco se pautou bastante por sua linha de patrimônio cultural material, assim buscando, por exemplo, valorizar as arquiteturas, explicou Eduardo, que destacou também a acessibilidade do site e aplicativo, em fotos com áudio-descrição e na tradução em Libras (Língua Brasileira de Sinais).
Seja na acessibilidade, seja na contemplação de cada vez mais mercados e na inclusão de outras cidades pernambucanas, o projeto se mostra significativo na conexão entre cidadão e cultura local. Afinal, cidade viva é somente aquela onde o reconhecimento e o zelo pelo espaço urbano formam uma via de mão dupla.
Ficou a fim de escutar a entrevista na íntegra? Clica aqui pra conferir. Lembrando que o #TBT101 é uma coluna em que, toda quinta-feira, vamos relembrar entrevistas e programas massas e importantes que já rolaram na programação da rádio pública do Recife.
Todas as entrevistas ficam disponíveis na sua plataforma de streaming favorita (Spotify, Deezer, Castbox, Google Podcasts, Anchor ou Mixcloud, além do YouTube).
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