por Bárbara Bittencourt
Em outubro de 2023, Janaína Serra recebeu Susana Zaman, Camila Infanger e Maria Emília, no Mamas, Minas e Manas, para conversar sobre as dificuldades que as mulheres mães enfrentam para permanecer na academia.
A maternidade ainda é considerada algo prejudicial à produtividade das mulheres no ambiente acadêmico e profissional, considerada algo que “retira” a mulher do eixo do mercado de trabalho por si só, não levando em conta os vários acúmulos de tarefas que as pessoas que maternam passam a exercer depois que gestam. É por isso que mães frequentemente encaram discriminação, sendo vistas como menos comprometidas ou disponíveis devido às suas responsabilidades familiares.
Para conversar sobre isso, o MMM recebeu a Mestra em equidade de gênero pela UFRS e cofundadora da consultoria Maternidade nas Empresas, Susana Zaman; a pesquisadora da área de estudos em gênero, maternidade e carreira acadêmica, e doutoranda em Ciência Política pela USP, Camila Infanger; e a doutora em História Social pela Unicamp e professora de História da UFPE e UFRPE, Maria Emília Vasconcelos.
Dando início à entrevista, Susana trouxe dados da Faculdade Getúlio Vargas sobre a questão da maternidade na academia:
Susana Zuman: Em 2016, a FGV fez uma pesquisa que apontou que 48% das mulheres mães interrompem suas carreiras devido à maternidade até 12 meses após o retorno da licença. Isso é um número muito alto, estamos falando que em cada duas mães, uma está fora do mercado de trabalho.
As entrevistadas debateram, em seguida, que é comum que mães escondam sua gravidez até os oito meses de gestação, a fim de que o tratamento nas empresas e nos ambientes acadêmicos não mudem com essa nova informação. Mulheres mães enfrentam, muitas vezes, o questionamento de suas capacidades de produção, pois é comum que acreditem que, por ser mãe, aquela mulher não tem mais espaço no mercado de trabalho e pesquisa.
Camila Infanger: Pensando no planejamento profissional, me faz pensar que, com 32 anos, o que foi que você construiu? Você tem medo de não ter para onde voltar depois de ter filho, porque durante a licença maternidade de quatro meses você tem que dar muito apoio a um serzinho, enquanto a indicação de amamentação unicamente de leite materno, recomendada pela OMS, é de seis meses. Então como você vai abrir mão e voltar a uma rotina de trabalho? Por mais que você retorne, será gradualmente. A questão social e profissional influenciam numa decisão individual porque elas estão falhando. O contexto social e profissional não estão dando condições para tomarmos nossa decisão sobre a maternidade com a nossa própria realidade, querem que encaixemos nossa decisão no cenário deles. Então, até os oito meses de gravidez fingimos que não temos filho porque temos medo de sermos consideradas a “mãezinha” do departamento, da empresa, e não aquela pessoa com poder cognitivo, inteligente, ambiciosa, aquela profissional que você construiu até aquele momento… É aquele medo de ser esquecida, de ser tomada pela maternidade por outros, e não deixarem você ter mais nenhum papel.
* * *
Ficou a fim de escutar a entrevista na íntegra? Clica aqui pra conferir. O #TBT101 é uma coluna em que, toda quinta-feira, vamos relembrar entrevistas e programas massas e importantes que já rolaram na programação da rádio pública do Recife.
Todas as entrevistas ficam disponíveis na sua plataforma de streaming favorita (Spotify, Deezer, Castbox, Google Podcasts, Anchor ou Mixcloud, além do YouTube).
Compartilhe