Por Luiz Rodolfo Libonati
Quando falamos do coletivo, todo processo de proteção da memória e de fortalecimento da resistência precisa necessariamente passar pelo conhecimento amplo da história. São as tradições, línguas, etnias e, também, a geografia dos povos. Isso se confirma especialmente quando o assunto é a origem diversa, complexa, heterogênea daqueles que constituem os povos que justamente primeiro vieram. E é a partir dessa responsabilidade que o Atlas do Pernambuco Indígena, iniciativa de caráter indigenista, foi e é construído.
Lançado em janeiro, o projeto é colaborativo entre antropólogos, historiadores e designers do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Etnicidade (NEPE) e do Laboratório de Antropologia, Política e Comunicação (LAPA), das universidades federais de Pernambuco e Paraíba, além de pesquisadores convidados, e abrange conteúdos acadêmicos, científicos e cartográficos, com informação já produzida sobre mais de dez povos indígenas pernambucanos. Um dos objetivos é contribuir para o processo informativo tanto para pessoas interessadas no assunto quanto para os próprios povos originários.
Em meio ao Agosto Indígena, a gente relembra esse bate-papo de janeiro no Calor da Rua, em que a apresentadora Priscila Xavier conversou com a designer e doutoranda em Antropologia pela UFPE, Juliana Ferreira, para saber melhor sobre o pertinente trabalho. Abaixo você confere um trecho:
Priscila Xavier: Juliana, eu queria que você contasse um pouco, neste momento em que a gente está vendo muito se falar dos povos indígenas, com esse período de redemocratização do nosso país, como é que você avalia a importância de um projeto como esse lançado agora, inclusive com apoio público, também, do Funcultura?
Juliana Ferreira: Então, a importância é ocupar, ocupar literalmente os espaços. Espaços cartográficos também falam. Eles pontuam e situam localidades e realidades já existentes e resistentes. O que é um atlas? Um atlas é uma publicação que reúne mapas ou cartas geográficas, e então, também nesse caso do portal, que é uma publicação virtual, reúne um compilado de pesquisas que vêm sendo amadurecidas há muito tempo pela paixão dos idealizadores, Estêvão Palitot e Lara Erendira, que sempre trocaram esses documentos entre si. E eu, como designer gráfica, tenho uma paixão há muito tempo também por mapas. A questão gráfica é muito reveladora de não só pontos que ocupamos, mas de nosso período anterior, período colonial, até os dias de hoje.
Esse atlas reúne pesquisas que vão além da nossa possibilidade prática de ter, anteriormente, acessado. Antes era algo muito restrito, para quem ia especificamente procurar esse material, na universidade, enfim, mas aqui, como a gente cria um portal através desse projeto de incentivo à cultura, a gente também consegue ampliar o público para ter e dar visibilidade e conseguir acessar as existências e resistências, conseguir compreender processos, inclusive históricos, que chegaram ao processo de retomada, por exemplo, do Povo Xukuru. Tem um artigo que trata sobre isso.
E, no Atlas do Pernambuco Indígena, o nome é esse porque pretende extrapolar as fronteiras de Pernambuco. Então, a princípio ele se abre com esse recorte, mas está aberto realmente para, ao coletar essas pesquisas, mapas e artigos, textos antigos e recentes, a gente ir ali situando localidades, esses processos de se apropriar dessa ferramenta, que é uma ferramenta técnica e também um objeto de arte, um mapa. E aí, essa ferramenta é muito importante, inclusive, para os próprios coletivos e as comunidades se apropriarem desses instrumentos e reivindicarem seus espaços e confirmarem suas existências ali.
Juliana Ferreira falou ainda sobre o aspecto visual do projeto cartográfico, apoiado de modo inerente em pinturas, mapas e imagens diversas, e a partir disso, também o quanto é indispensável que se tome como base a união do histórico e do contemporâneo, isto é, de representações datadas do período colonial, feitas a partir da visão colonizadora, e da confecção da cartografia a partir dos relatos indígenas.
Para conhecer o rico trabalho, acesse o Atlas do Pernambuco Indígena.
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Ficou a fim de escutar a entrevista na íntegra? Clica aqui pra conferir. Lembrando que o #TBT101 é uma coluna em que, toda quinta-feira, vamos relembrar entrevistas e programas massas e importantes que já rolaram na programação da rádio pública do Recife.
Todas as entrevistas ficam disponíveis na sua plataforma de streaming favorita (Spotify, Deezer, Castbox, Google Podcasts, Anchor ou Mixcloud, além do YouTube).
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