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A magia da lona e do picadeiro debatida por quem vive do circo

27.03.19 - 10H06
Foto: Andréa Rêgo Barros/PCR

As Levianinhas. Foto: Andréa Rêgo Barros/PCR


"Todo artista tem de ir aonde o povo está"

- Milton Nascimento, 1981

 

“Hoje tem espetáculo? - Tem sim, senhor! Às nove e meia da noite? - Tem sim, senhor! E o palhaço o que é? - Ladrão de mulher!”. Algazarra geral. Quem não se lembra desse e de outros chavões que marcaram, através do tempo, a infância de dezenas de gerações? Caravanas de artistas que iam de cidade em cidade levando alegria, beleza e fascinando toda a gente do lugar, de velhinhos à crianças: o circo.

No programa Revista Difusora - que tem promovido debates sobre as linguagens artísticas nas segundas-feiras - no dia 25 de março, foi ao ar uma conversa sobre as artes circenses em comemoração ao "Dia do Circo", comemorado em 27 de março. O papo contou com um dos fundadores da Escola Pernambucana de Circo, Zezo Oliveira, e com o assessor de gestão da escola, Everton Lima. “Há estudos que estão sendo feitos, que indicam que as artes circenses vêm desde os tempos das cavernas. Só no século XIX, é que a estrutura do que conhecemos hoje como ‘circo’ começa a se firmar, com um picadeiro, uma estrutura mais de arena, de espetáculo, com uma quantidade maior de pessoas”, disse Zezo.

As trupes de ciganos, aventureiros e desgarrados iam até os confins do mundo, com suas levitadoras que abismavam plateias, mágicas onde os mais simples diziam haver o diabo envolvido, feras selvagens que rugiam enchendo de medo e encanto toda aquela massa envolvida pela grande lona iluminada e os velhos palhaços que interagiam com o público, fazendo-os entoar em um coro uníssono uma absurda gargalhada - menos, claro, as pessoas caçoadas, essas ficam em sisudo silêncio. “A arte circense, é uma arte agregadora, sempre foi. Ela é do popular e vem do popular”, afirmou Everton, que ainda acrescentou: “O circo era o grande difusor da arte, de tudo que era produzido no Brasil. Uma grande vitrine para o público. O circo vai a lugares aonde, às vezes, ninguém mais vai. Lugares sem biblioteca, sem um teatro, um cinema nem pensar. Muita gente famosa começou justamente no circo. Gretchen, por exemplo, agora voltou a se apresentar em circos e ela deve muito a eles pela carreira que tem”.

Um dos temas principais da conversa foram as diferenças que, naturalmente, o passar dos anos trouxeram à vida circense e como o universo do circo está atualmente. Zezo mencionou que: “Até meados do século XX, a pessoa que queria se formar em circo ou acompanhar o circo tinha que literalmente fugir com ele. Toda formação de circo antigamente era especificamente dentro da lona, e até hoje é assim, a lona nunca deixou de formar, só que atualmente, não é mais o único lugar dessa formação. Até que nos anos 80 começaram a surgir escolas e com isso uma multidão de gente que não tinha ligação nenhuma com o circo começou a se interessar. Começou daí, nos anos 80, um grande surgimento de trupes e grupos circenses aqui no Brasil”.

Perguntados sobre a escassez de circos populares hoje, em comparação ao passado, Oliveira refletiu: “Acho que é uma falta de compreensão do que o circo representa e representou. O circo é o verdadeiro ambiente para a economia criativa, o circo tem tudo em sua estrutura e ninguém percebe. Hoje o circo tem que concorrer com as manifestações contemporâneas de diversão como a internet e a televisão. Há atualmente uma vivência de circo muito diferente com o passado, os grandes circos hoje, você não tem condição nem de pagar”.

Perdeu o programa? Não se aperreie, assista na íntegra toda a conversa no vídeo abaixo:


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