Audiência com Líderes Indígenas dos Estados de Mato Grosso e Pernambuco.
Foto: Alejandro Zambrana/Sesai
"...Depois de exterminada a última nação indígena
E o espírito dos pássaros das fontes de água límpida.."
- Caetano Veloso, 1977
Durante toda a última semana, o programa Salada Pop dedicou seu espaço à pauta indígena como forma de ampliar a voz e a representatividade destes povos, no mês em que é comemorada a sua cultura. Na edição da última quinta-feira (18), a representante da Comissão de Juventude Indígena de Pernambuco – Cojipe, Myrelliane Kapinawá, conversou sobre o Acampamento Terra Livre, encontro indígena que reúne 305 diferentes povos em Brasília.
Myrelliane demonstrou apreensão com relação à realização do encontro esse ano, especialmente após a publicação, neste mês de abril, da portaria nº 441, que permite o uso da Força Nacional de Segurança Pública em manifestações públicas realizadas na Esplanada dos Ministérios. “Várias são as expectativas. A gente não consegue imaginar como será lá, nossa chegada, se teremos um lugar para ficar. É um novo governo, né?” diz Myrelliane.
É um período complicado para os povos indígenas brasileiros. Logo nos primeiros dias de 2019, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), órgão responsável pela política indigenista do Estado brasileiro, foi desmontada numa medida editada pelo governo, transferindo o mesmo do Ministério da Justiça para o recém-criado Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. Entre algumas das consequências do ato, estão a retirada das demarcações das terras indígenas e licenciamento ambiental das mesmas, tendo todos esses assuntos sido entregues para a bancada ruralista. Resultado: Ataques e invasões contra terras indígenas, além das velhas perseguições intolerantes e racistas aos verdadeiros originadores do nosso país.
Perguntada como é a relação dos movimentos jovens indígenas com seus mais velhos devido à suas culturas e tradições, Myrelliane foi enfática: “A Comissão de Juventude Indígena de Pernambuco vem justamente para fortalecer essa hierarquia, esse respeito que a gente tem pelas nossas lideranças, nossos antepassados, pois temos uma conexão muito forte com eles. A gente se junta, se articula, organiza as reuniões e as pautas, mas sempre pensando e se aconselhando com os caciques, com as nossas lideranças”.
O empoderamento das mulheres, que tem sido percebido em toda sociedade brasileira, nos últimos anos, também pode ser visto no movimento dos jovens indígenas. “Há um respeito mútuo entre homens e mulheres, sempre todos respeitando a opinião um do outro. Muitos dos projetos em cena dentro dos povos foram conseguidos e elaborados por mulheres. Inclusive, vai ter o 1º Encontro Nacional de Mulheres indígenas, mostra do quanto avançamos na questão”, conta Myrelliane.
Texto escrito por Douglas Tenório*, estudante do 7º período de Jornalismo.
Confira tudo o que rolou nessa entrevista:
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