ícone face twitter instagram

#DebatesCulturais abordou as perspectivas das mulheres na Produção Musical

05.09.19 - 10H58
Da esquerda para a direita: O apresentador Patrick Torquato, Kira Aderne, Joana Knobbe e Gabriela Deptulski.

Da esquerda para a direita: O apresentador Patrick Torquato, Kira Aderne, Joana Knobbe e Gabriela Deptulski.

Lugar de mulher é onde ela quiser. E não é diferente no estúdio da Frei Caneca FM. Na última segunda-feira (02), elas tiveram vez e voz no programa Revista Difusora, no qual Patrick Torquato recebeu nomes da cena alternativa recifense para uma conversa sobre o protagonismo feminino na música. Gabriela Deptulski, arranjadora, produtora musical, guitarrista e vocalista da banda capixaba My Magical Glowing Lens,  Kira Aderne, vocalista e guitarrista da banda Diablo Angel, e a arranjadora e professora de interpretação vocal (além de musicista, cantora e compositora), Joana Knobbe, abriram o mês de setembro dos Debates Culturais contando suas impressões sobre a presença feminina no mundo musical.  

Logo de saída, as convidadas falaram sobre as artistas que as influenciaram. Joana Knobbe contou que entre as muitas mulheres que a levaram à música, a estadunidense Rachelle Farrell foi quem mais lhe marcou durante a infância e a juventude. "Eu queria que ela fosse minha professora de canto", confessou, relembrando a admiração ao descobrir a grande instrumentista e notável cantora. "A gente demora a reconhecer mulheres que tocam, né? Na minha infância inteira ali, anos oitenta e noventa, a gente vendo o Rock In Rio, e só os homens lá, as bandas dos homens", completou a musicista. 

"A primeira mulher que me inspirou a tocar foi a Cat Power", relembrou Gabriela, que ainda destacou nomes como o de Alice Coltrane (1937-2007), Karen Dalton, que a “influenciou bastante”, além de instrumentistas de cítara, como Anoushka Shankar, “que me influencia na guitarra, também". Kira Aderne contou que na infância gostava de cantar todas as músicas de Marisa Monte e, que a partir da adolescência foi que se viu interessada por instrumentos como o violão e a guitarra, tendo como referências femininas Kim Deal (baixista do The Pixies), e a canadense Alanis Morissette. "Não existia uma instrumentista, eram os homens mesmo quem me influenciavam a tocar. Depois foi que, por estar tocando, vim a conhecer outras mulheres que também faziam rock e tocavam um instrumento", relembra. 

Durante a conversa, foram abordados aspectos importantes, como por exemplo, a autonomia da mulher com a própria obra e a luta contra os estereótipos. Joana falou que apesar das mudanças e avanços nas questões do empoderamento feminino, algumas situações ainda são incômodas para as mulheres na cena brasileira. Lembrou ter sido impactada com o caso da cantora Joyce, chamada de "Chico Buarque de saias", por conta de seu talento como cantora, compositora e instrumentista.  Além disso, revelou ter tido dificuldades para encontrar músicos que aceitassem “tirar suas músicas” no início de sua carreira como compositora. Para Gabriela, as dificuldades começaram quando, ao optar pela guitarra, lhe era imposto o aprendizado de violão por ser algo "mais feminino".

Será que se fosse um homem, ele iria ouvir? Líder e compositora da Diablo Angel, Kira celebra o seu momento atual como sendo "uma fase de afirmação como compositora", e relembrou que "no primeiro álbum, a gente nem discriminou de quem eram as músicas, as músicas eram da banda. Mas as músicas eram todas minhas, e isso não estava discriminado no álbum". Já no segundo, ela conta ter feito questão de assinar a autoria das músicas, assumindo, assim, o seu protagonismo no trabalho da banda recifense de rock.

"Meus amigos tinham dificuldade de tirar minhas músicas e, principalmente, de tirar os meus arranjos. Eles não queriam tirar os meus arranjos, eles modificavam tudo. São poucos os instrumentistas que eu lidei até hoje que têm delicadeza de entender que eu não fiz aquele arranjo para ser megalomaníaca louca. Eu também sou interessada pelos arranjos, isso faz parte da minha composição. Eles (os arranjos) vão dizer aquilo o que a minha música diz", explica Gabriela, há pouco radicada na capital pernambucana. 

Enfim, para quem gosta de música com atitude feita por gente de atitude, o mês de setembro não poderia ter começado melhor no programa Revista Difusora. Uma edição recheada de temas importantes que merecem ser conhecidos, refletidos e discutidos. Se é fundamental para meninas que sonham com o brilho da própria estrela, mas têm medo ou vergonha de plugarem suas guitarras, deixarem o seu recado ou apenas fazerem um barulhinho bom; é, como diria o próprio Patrick Torquato, "uma aula para nós, homens". Vale a pena!  

Quer assistir a entrevista completa? Confere o vídeo da live da Frei Caneca FM:

 


Compartilhe