Créditos: Inês Campelo/MZ Conteúdo
O que é dança de rua e o que é dança clássica ou “séria”? Até onde vai um e começa outro? Quem definiu esses limites e por que ele tem que prevalecer para todos? Essas e muitas outras questões foram debatidas no programa Revista Difusora, que toda segunda-feira traz o quadro Debates Culturais, com um tema diferente em pauta. Na última segunda-feira, 29 de abril, quando se comemorou o Dia Internacional da Dança, Patrick Torquato teve como convidados, no estúdio, os bailarinos Marta Guimarães e Jefferson Figueiredo. Os dois falaram sobre a história da dança e e discutiram suas diversas estéticas, manifestações e o alcance das mesmas na nossa sociedade.
Para Marta Guimarães, nunca houve fronteiras para quem realmente quis dançar: “A dança é uma forma de expressão, né? Se você for pegar a história da dança, ela existe a partir de uma tradição ritualística. Depois é que nascem as técnicas, os métodos. E a dança como expressão é uma coisa que está em todo mundo. É algo que todo mundo acessa, é a nossa primeira linguagem. Primeiro a gente se move, para só depois falar. Eu gosto de brincar dizendo que todo mundo é um bailarino em potencial”. O papo enveredou sobre a manifestação da dança como algo que é e sempre será de cunho pessoal. O ato de dançar não sendo exclusivo de uma classe ou uma academia específica, podendo essa ‘dança’ ganhar ou não multidões, como acontece com o passinho nos dias de hoje . “Legitima a individualidade, né? Esse movimento contemporâneo vem quando você não precisa reproduzir tudo do mesmo jeito que todo mundo ou sendo igual. O contemporâneo não é como o balé clássico. O contemporâneo está muito para além de uma técnica que se coloca, é uma forma de fazer e de entender a dança”, completou Marta.
Enquanto a conversa estabelecia um paralelo entre o clássico e o contemporâneo, a visão historiográfica da dança foi abordada e questionada: “No início, era uma coisa mais ligada à dança de corte. Pensando nessa historiografia da dança, nessa origem europeia, eu penso que era bem elitista mesmo, mas não esqueçamos de que em outros lugares também estava acontecendo dança. Enquanto tinha uma dança específica e padronizada que saiu da corte e foi para os teatros, tinham danças e manifestações nas feiras e nas ruas da época”, disse Jefferson. É a transversalidade da história como é contada, pois ao mesmo tempo em que ocorria um grandioso balé em algum majestoso teatro de primeiro mundo, paralelamente, as danças populares igualmente se manifestavam e se desenvolviam sem nenhum registro ou acompanhamento histórico. “É o padrão de uma história que me contaram e que só me mostra uma ótica da coisa, já entrando no eurocentrismo. É preciso ficar atento e não cair nessas armadilhas, só porque está em muitos livros e é reproduzido em todos os lugares”, conclui Jefferson.
Quando a conversa se aproximava do fim, foram questionados os limites, o alcance e a influência que as manifestações das ruas, causam na população com um todo, independente de classe social e a importância que ela adquire com o passar dos anos: “Eu fico muito feliz de ver que a comunidade está se empoderando e assumindo um lugar de protagonismo. Você percebe que antes, na periferia, prioritariamente, os astros eram pessoas muito distantes, sabe? Acho que ficava no imaginário dos jovens, o que eles queriam ser eram coisas muito distantes da realidade deles e hoje você vê que existem astros dentro das próprias comunidades e os meninos querem ser iguais àquele cara que mora ali. E trazendo esse olhar para a dança, eu acho muito engraçado como a dança assumiu o protagonismo da história. A dança é um lugar de fala importantíssimo e é aberta para todos. A dança é para todos. Temos que assumir esse lugar”, finaliza Marta.
Texto escrito por Douglas Tenório*, aluno do 7º período de jornalismo.
Perdeu o programa e quer ver a conversa na íntegra? não se aperreie, assista a live, gravada para o Facebook, aqui.
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