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BaianaSystem e a divindade política do Carnaval no #TBT101

28.04.22 - 09H05
Making of do filme Manifestação - Carnaval do Invisível (Divulgação). Reproduzido da Internet

Making of do filme Manifestação - Carnaval do Invisível (Divulgação)

Por Johnny de Sousa

 

Já se passaram dois anos sem Carnaval. O que era pra ser uma manifestação colorida e bonita, acabou por se tornar, neste período pandêmico, uma festa côr de asfalto, com as pessoas fechadas em casa, misturando saudades e sentimentos. A festa que tanto nos saudou, no entanto, tem voltado aos poucos, não só com muita alegria, mas com muita revolta acumulada. 

No início de 2022, a entidade musical BaianaSystem dissertou sobre as manifestações carnavalescas através de um mini doc, sendo o seu nome "Manifestação - O Carnaval Do Invisível". O mestre de cerimônia Russo Passapusso, numa entrevista dada ao BR 101, da Frei Caneca FM, expressou suas opiniões em relação às festividades brasileiras e como elas, no final das contas, são verdadeiros atos revolucionários.

Gabriele Alves: Enquanto eu assistia o documentário, fiquei pensando numa coisa que muita gente deixa passar. Acho que, propositalmente, as pessoas deixam de olhar o carnaval como uma manifestação política, que, no final das contas, é um grande encontro de pessoas, de arte e de música. Tudo isso faz falta, agora, porque é uma manifestação popular, né Russo?

Russo: Exatamente! As pessoas tendem a achar que manifestação política é apenas uma questão partidária, só que não é. O sentido de política, aqui, é muito maior, pois é uma questão existencial, de ser, mesmo… então tem muita coisa envolvida, inclusive música, dança, etc…. Existem possibilidades incríveis de relações no carnaval. Relações entre mundos diferentes. Por exemplo, tem a pessoa rica, que fica no camarote, mas que vai comprar cerveja do ambulante, do lado de fora, porque é mais barato. Isso é só um exemplo, mas tem a pauta religiosa que também entra nessas relações. Da reza ao Axé, sabe?

Gabriele Alves: Me faz pensar nos cortejos de Maracatu que têm aqui em Recife, que entram na abertura do carnaval para fazer uma lavagem no campo da festa. Há um respeito que paira sobre as manifestações religiosas no período carnavalesco, coisa que só acontece aqui, pelo Nordeste. Então, rola isso, né? Um senso de comunidade muito grande.

Russo: Muito! É muito forte! Inclusive, há um sentido de religar as pessoas, dentro dessas práticas religiosas. Não é só aquela coisa do espetáculo e da música, mas é uma celebração da vida e uma forma de colocar as pessoas juntas para que festejem. E assim, eu não enxergo isso só no carnaval, mas em todas as datas que cercam a espiritualidade das pessoas. Eu sou do interior da Bahia, e quando eu vim pra Salvador eu não encontrava uma correspondência espiritual, em festas, tão forte quanto em outras cidades. Uma festa que eu vejo rolar essas práticas tão fortes quanto no carnaval é o São João. Meu ciclo junino é tão forte quanto o carnavalesco, até porque eu via a galera saindo na rua fantasiado e melando os outros com maisena da mesma forma que no carnaval. Meio que eu vivi o São João como vivo o carnaval hoje, da mesma forma que aproveito para ver esse grande laboratório social que são essas festas….

Ficou a fim de escutar a entrevista na íntegra? Clica aqui pra conferir. Lembrando que o #TBT101 é uma coluna em que toda quinta-feira vamos relembrar entrevistas massas e importantes que já rolaram na Rádio Pública do Recife.

 Todas as faixas de entrevistas do BR-101.5 estão disponíveis na sua plataforma de streaming favorita (Spotify, Deezer, Castbox, Google Podcasts, Anchor ou Mixcloud.).

Vem de carona com a gente pelas estradas da cultura!


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