Imagem: still do videoclipe “Terra Remix” com imagens de Yuri Vilar e Surama Negromonte
Por Johnny de Sousa
Num momento em que preconceitos infectam a autenticidade e as escolhas pessoais de cada indivíduo, Ciel vem como um sopro de vida nova, ressignificando a palavra “ser” através de sua arte. Abraçando a luta como um homem gay, sobrevivente da arte e natural do agreste, o artista brinca entre raízes e futurismo, gerando sonoridades totalmente pernambucanas somadas ao pop de noitada.
Em outubro de 2021, a apresentadora do BR-101.5, Gabriele Alves, teve um papo com Ciel sobre o seu último single, “Terra”. Contando com a participação e remixagem do grupo Radiola Serra Alta, a canção é de uma ancestralidade tremenda, preparando o terreno de hoje para se conectar até com o futuro! Esse papo foi apenas o início de toda uma admiração que nós, da rádio pública do Recife, carregamos por Ciel e o que ele representa.
Gabriele: Eu acompanho tua música desde sempre, e eu tô achando muito interessante essa sonoridade mais eletrônica que você traz no single “Terra”. Teve essa colaboração massa com o grupo Radiola Serra Alta, que deu uma transformada no som, e tal. Como se deu esse resultado?
Ciel: Então, “Terra” pertence ao álbum Enraizado, lançado em 2019. Eu queria fazer uns remixes desse disco no intuito de relembrar o álbum, levar ele à tona novamente, além de que eu adoro quando outros artistas cantam minhas músicas, dando um novo frescor à elas. A Radiola Serra Alta foi uma feliz escolha, porque eu acho que o trabalho deles conecta a música tradicional nordestina com o futuro, dando um formato tecnológico à canção sem perder a poética da coisa. Então, eu vejo a música do Radiola se conectando perfeitamente com a minha, sendo um projeto que fluiu de uma maneira muito gostosa para todo mundo que se envolveu nele.
Gabriele: É linda essa conexão que você faz entre cidades. Nós, seus fãs recifenses, percebemos o quanto você faz questão de pontuar sua casa, Bezerros, no interior de Pernambuco.
Ciel: Pois é, eu sou a princesinha do agreste (risadas)! Eu adoro fazer isso, pois tudo que eu faço é um resultado da minha autenticidade. Passei muito tempo cantando na noite, e eu ouvia muitas críticas do tipo “canta mais grave”, “muda esse sotaque”, “fica mais durinho no palco”... No entanto, tudo isso me serviu de escola para que eu me entendesse e falasse pra mim mesmo: “Não, eu sou assim e pretendo continuar da mesma forma!”. Quando eu parei de dar ouvidos a essas críticas, foi num momento de grande florescimento pessoal, resultante de vivências constantes com minha cultura, o carnaval da minha cidade… É sobre, realmente, se sentir como raiz de em lugar.
Gabriele: Falando dessa terra a gente percebe o quanto ela é sua, Ciel. Como artista, é preciso muita maturidade para entender o que lhe pertence, o que lhe adiciona de verdade na vida , não é?
Ciel: Sim! Eu estou aprendendo cada vez mais a entender o que a minha pele fala, sendo ela o maior órgão do corpo humano. Eu faço este órgão de radar, transformando-o num sensor para ver se eu devo entrar nessa água, se eu devo pular desse precipício, e assim eu tenho visto muitas coisas que eu quero, assim como as que eu também não quero. Tem muita gente que finge querer dar conselho, mas na verdade só quer te envenenar… Então eu sempre tenho me atentado a esse tipo de pessoa. Acredito que a arte te atravessa de todas as maneiras, seja num filme, numa música, num pano de prato pintado pela sua avó… Realmente, de todas as maneiras. É muito bom que a gente possa se permitir ouvir essas formas de comunicação e buscar intercâmbios culturais para nossas vidas, sendo necessário sempre se blindar de conteúdos tóxicos, que não nos adiciona nada. Por isso que eu valorizo tanto a cultura popular, pois ela é minha casa e representa tudo aquilo que eu sou. O meu objetivo é mostrar aos mais jovens que se deve valorizar esse formato de arte, sendo ele a base de tudo que a gente conhece. Inclusive, nós mesmos.
Mais para frente, Ciel fala de suas vivências culturais para além da cidade de Bezerros, citando suas experiências como parte de bandas e cantando na noite, assim como suas temporadas no Balé Popular do Recife. O artista ainda cita sua admiração pela moda, vertente que trabalha junto com a música desde o início de sua carreira, tanto pela estética, quanto pela afirmação da liberdade. Através de sua arte, mesclando futurismo, cultura popular e o presente, tudo isso mesclado com extrema finura, Ciel propõe um novo olhar sob o povo sertanejo, exaltando sua terra com orgulho e esbanjando fartura e prosperidade!
Ficou a fim de escutar a entrevista na íntegra? Clica aqui pra conferir. Lembrando que o #TBT101 é uma coluna em que, toda quinta-feira, vamos relembrar entrevistas massas e importantes que já rolaram no BR-101.5 da rádio pública do Recife.
Todas as entrevistas ficam disponíveis na sua plataforma de streaming favorita (Spotify, Deezer, Castbox, Google Podcasts, Anchor ou Mixcloud.).
Vem de carona com a gente pelas estradas da cultura!
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