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#TBT101 - Saúde mental com Thaís Oliveira

18.08.22 - 14H06
Thaís Oliveira

Thaís Oliveira, convidada do TPM - Tempo Pra Mim. (Foto: Acervo pessoal)

Johnny de Sousa
 

O brasileiro médio é acostumado com o fato de que existem raças, funções sociais e status a serem separados daqueles que são vendidos como “mais importantes”, já que existe a tentativa de normalizar a existência de milhares de cidadãos em estado de miséria. A fome, a violência e o descaso, no entanto, são frutos de um processo de marginalização de certas camadas sociais, que se baseia única e exclusivamente na criação de uma hegemonia que promove o isolamento por meio da higienização de uma população “indesejada”. Logo, tal processo se inicia nas favelas e se alastra por diversas instituições. Qual seria a semelhança entre um manicômio e uma prisão, senão o ostracismo de seres humanos para vetá-los de seus direitos mais básicos? 

Se a saúde mental fosse algo não banalizado no país, poucos seriam os esquecidos em hospitais, asilos e até mesmo dentro de suas próprias casas. No entanto, o alerta tem sido grande o suficiente para que pessoas se voltassem à preservação da sanidade e lutassem pelo direito de um bom acompanhamento psicológico. No Recife, a existência dos Centros de Atendimentos Psicossociais (CAPs), criado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), têm sido um reforço a mais para que a população tenha acesso ao atendimento psicológico com uma série de profissionais qualificados.

A apresentadora do programa TPM - Tempo Pra Mim, Priscila Xavier, reforçou a importância do atendimento psicológico igualitário por meio de uma entrevista com a psicóloga Thaís Oliveira, gerente de atendimento do CAPs Esperança, em Recife. Thaís é mulher negra, psicóloga, redutora de danos, mãe de Davi, especializada em atendimentos para pessoas com dependência química e autodeclarada parte da luta antimanicomial.


Priscila: Eu já queria trazer essa temática, de saúde mental, para o programa, porém esses últimos anos me fizeram querer trabalhar em cima dele com mais urgência. Acho que nunca foi tão importante a necessidade de um acompanhamento psicológico como foi e está sendo na pandemia. Vi a necessidade de trazer alguém de Recife que trabalhasse no CAPs, que são as Centrais de Atendimentos Psicossociais daqui da cidade. Vamos fazer uma introdução sobre o que é trabalhar com saúde mental e como a gente pode trazer esse tema para as pessoas que estão nos ouvindo?

Thaís: Claro! A importância de debater esse tema é justamente para acabar com a ideia de que saúde mental tem a ver com transtornos, com loucura… “Ah, mas é que psicólogo é coisa de gente doida”; não, não é! O acompanhamento psicológico aborda muitas outras questões além dos transtornos, visto que o ganho principal dessa área é o bem estar da pessoa. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o termo “saúde mental” como um estado positivo na vida do ser humano, pois contempla o indivíduo como capaz de realizar seus afazeres, de atingir seus objetivos. Então, o objetivo dos profissionais da psicologia é garantir que todo mundo tenha esse direito de se manter estável, a fim de que possam atravessar as etapas da vida de maneira controlada. É muito mais do que uma ausência de sofrimento, é a garantia de saber lidar com a vida.

Priscila: E como é essa questão da luta antimanicomial?

Thaís: Bem, agora abrindo espaço pra esse tópico, a luta é em favor da garantia dos Direitos Humanos diante de um tratamento psicológico qualitativo. Historicamente, as pessoas levadas para os manicômios ficavam à margem da inexistência, completamente isoladas e excluídas, dentro de condições subumanas. Normalmente, os isolados eram vítimas de um sistema antidrogas, que era uma desculpa para fazer uma higienização social. Então, as pessoas eram retiradas da sociedade para ficarem isoladas em espaços completamente fechados. A luta contra esse sistema se faz importante por apresentar novos modelos de tratamento, mais saudáveis, de fato, para as pessoas que necessitam. Acho que o maior exemplo de que um acompanhamento de qualidade é fundamental foram esses dias mais críticos da pandemia, em que passamos muito tempo isolados. Acredito que é importante pensar que passamos por isso, mesmo com os nossos privilégios de poder, de fato, ficar em casa.

Priscila: É muito específica a situação daqueles que sofreram dentro de instituições manicomiais, e talvez seja essa realidade distante, porém não menos perturbadora, que faz a gente se radicalizar para querer fazer parte da luta. No entanto, Thaís, eu queria que você falasse da importância do acompanhamento psicológico para as pessoas em situação comum: os que estão sempre na correria para lidar com as demandas do trabalho, como eu e você. Afinal, saúde mental vai muito além de um diagnóstico de transtornos.

Thaís: Infelizmente, essa é uma questão muito sensível, pois, como eu falei rapidamente, antes, o problema maior é o preconceito que as pessoas têm contra o trabalho de saúde mental. Eu diria que as pessoas têm que levar as sobrecargas mentais tão a sério quanto levam as dores físicas, visto que nesses casos já procuram algum remédio ou alguma forma de tratar rapidamente. Caso não tenha um acompanhamento, o resultado final será chegar na velhice extremamente sobrecarregado e ansioso com tudo que levou antes, durante a vida. É importante, então, procurar uma unidade de saúde, visto que muitas oferecem atendimento gratuito e de extrema qualidade. O que impede as pessoas de procurarem ajuda é esse grande estigma de que fazer terapia é coisa de doente. 
 

Diante dessas temáticas, a conversa rendeu informações importantes sobre saúde mental e, principalmente, onde encontrar atendimento gratuito. Na cidade do Recife, os CAPs ficam disponíveis nos principais pontos da região metropolitana, funcionando de segunda a sexta, normalmente das oito da manhã às cinco da tarde. No entanto, alguns possuem atendimento 24 horas por dia. Para checar todos os endereços e horários completos das clínicas, basta acessar o site https://www2.recife.pe.gov.br/servico/servicos-de-saude-mental-caps. Não tem desculpa, viu? Se cuide!

 

Ficou a fim de escutar a entrevista na íntegra? Clica aqui pra conferir. Lembrando que o #TBT101 é uma coluna em que, toda quinta-feira, vamos relembrar entrevistas e programas massas e importantes que já rolaram na programação da rádio pública do Recife. 

Todas as  entrevistas ficam disponíveis na sua plataforma de streaming favorita (Spotify, Deezer, Castbox, Google Podcasts, Anchor ou Mixcloud.)


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