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#TBT101 - O compromisso da comunicação pública com a parcialidade e a reflexão crítica

18.05.23 - 10H50
#TBT101 -  O compromisso da comunicação pública com a parcialidade e a reflexão crítica

Foto: DINO

Por Bárbara Bittencourt

Nos últimos anos, com a emergência da cultura de disseminação de notícias falsas e a percepção da influência das mídias na nossa vida, muito se tem falado da importância da regulação dos meios de comunicação e do fortalecimento de mídias independentes. Como disse Inamára Melo, apresentadora do Mulher na Caneca, no seu quinquagésimo nono episódio, “no nosso país, com conglomerados de comunicação tão fartos e fortes, a comunicação pública tem um papel essencial de inserir uma parte significativa da população no debate, abrindo os canais de diálogos e de oportunidades. Ela tem reforçado, sob óticas mais justas e inclusivas, temas urgentes, que muitas vezes são monopolizados pelos discursos da grande mídia.”

A comunicação, como salientou o Coletivo Intervozes, está intrinsecamente ligada à democracia: “a manifestação de toda a pluralidade de atores a enriquece, ampliando a capacidade de encontrar soluções que contemplem toda a sociedade. Por outro lado, a ausência de diversidade cria falsas unanimidades e prejudica o debate público.” É por isso que, no TBT 101 desta semana, destacamos a importância da comunicação pública e plural, pilar sobre o qual a Frei Caneca FM foi construída e permanece até hoje.

Em 2022, o Mulher na Caneca, programa da faixa mulher que foi finalizado depois de quatro anos veiculando notícias sob uma perspectiva feminista, pautou a comunicação pública e as mídias independentes de Pernambuco. Apresentado pelas jornalistas Inamára Melo e Clareana Arôxa, o episódio contou com as jornalistas Martihene Oliveira e Maroca Cavalcante para conversar sobre suas ações junto aos coletivos independentes Sargento Perifa e Coquevídeo e Potências Periféricas, respectivamente. Um dos pressupostos básicos das mídias independentes é o de que não existe imparcialidade no jornalismo, ideia que os conglomerados de comunicação utilizam de argumento para garantir sua legitimidade e confiabilidade. 

Inamára Melo: Tem muita gente que repete que o bom jornalismo é imparcial, o que é uma grande mentira, já que os repórteres e as empresas jornalísticas são sempre produtos de nossa cultura, carregando conceitos e preconceitos. Então, é muito importante que o jornalismo seja plural e ouça o máximo de vozes, firmando compromissos civilizatórios básicos. Eu queria que vocês explicassem a importância dessa comunicação pública para a construção da consciência coletiva sobre o que é cidadania, o que são os direitos humanos, o bem viver, que é quando o jornalismo mais tradicional, governado pelos conglomerados de comunicação, falham.

Maroca Cavalcante: Vou falar de uma coisa que aconteceu comigo, a minha visão sobre a informação ser tão parcial, pois ela tem um foco, uma defesa. A comunicação existe para defender alguém e para omitir certos fatos. Uma situação gritante que eu vivenciei foi durante o protesto no 29M, aquele em que uma pessoa levou um tiro no olho. Os policiais realmente estavam mirando no olho da população, jogando bomba. A gente achou que aquilo tomaria uma proporção enorme, que a mídia mostraria o cenário de guerra que aconteceu naquele dia. Quando fomos ver nas redes sociais no mesmo dia, dois dias, uma semana depois, nada foi relatado. Aquilo deu uma angústia na gente, então criamos o Potências Periféricas nesse sentido, para gente falar, nem que seja somente para nossa comunidade. Da nossa comunidade, a galera vai falar para mais pessoas, vai colocar nas redes sociais… a gente vai sacudir isso aqui sim.

Martihene Oliveira: A gente precisa dialogar dentro das comunidades, e acho que essa é a forma mais combativa de trabalhar a cidadania e combater esse mito da imparcialidade. Eu costumo dizer que a partir do momento que o repórter escolhe entre uma notícia e outra, se ele tem dez notícias e só tem um minuto para publicar uma delas, ele vai escolhê-la por algum motivo. Nesse momento, ele já não está sendo imparcial… Então, quando traduzimos isso para a comunidade, ela começa a refletir e se torna mais crítica. Eu gosto muito dessa máxima: “uma vez incomodado, a gente só sossega quando tira o incômodo do lugar”, e a ideia é essa mesmo, de levar essas inquietações.

A abertura do episódio contou com uma mensagem importante: “Comunicação é um direito. Não custa repetir.” Nosso papel enquanto mídia é levar os temas de interesse público para os cidadãos refletirem e lutarem para tirar os incômodos do lugar.

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Ficou a fim de escutar a entrevista na íntegra? Clica aqui pra conferir. Lembrando que o #TBT101 é uma coluna em que, toda quinta-feira, vamos relembrar entrevistas e programas massas e importantes que já rolaram na programação da rádio pública do Recife.

Todas as  entrevistas ficam disponíveis na sua plataforma de streaming favorita (Spotify, Deezer, Castbox, Google Podcasts, Anchor ou Mixcloud, além do YouTube).


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