ícone face twitter instagram

#TBT101 | O Cinema e a sala de aula unidos pela Educação Antirracista

26.10.23 - 09H56
Cineclube Bamako

Imagem de divulgação do Cineclube Bamako. (Reprodução/Internet)


Por Bárbara Bittencourt


“Numa sociedade racista não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”. Cunhada por Angela Davis em suas redes sociais, cada vez mais debatemos a importância de incorporar o antirracismo em nossas vidas, bem como partilhá-lo em todas as esferas da sociedade. 

O Brasil, como bem pontuou Florestan Fernandes, “tem preconceito de ter preconceito” e, por isso, falha até mesmo em reconhecer o próprio racismo. Nesse sentido, o antirracismo surge como um posicionamento ativo contra o preconceito racial, reconhecendo a existência dele e buscando formas de combatê-lo. Segundo Renata Costa, professora de História e História da Educação do Campus Estrutural do Instituto Federal de Brasília (IFB): “Só a partir do momento em que tem esse reconhecimento é que nós somos capazes de criar sujeitos, indivíduos, educandos que sejam capazes de ter um posicionamento crítico, de reconhecer ‘sim, nós vivemos em um país racista’, então como eu devo me portar, como eu devo me colocar diante dessa situação?”

A Educação Antirracista surge, então, como uma esperança de construção para um Brasil melhor, no qual debatemos e combatemos o racismo. Foi sobre isso que Nice Lime conversou em Julho de 2021, no já finalizado Salada POP, com Fabiana Maria. A convidada, que se considera professora desde que nasceu, é graduada em pedagogia pela Universidade de Pernambuco (UPE) e especializada em Mídias da Educação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Na sua atuação como professora da rede municipal de Olinda, Fabiana desenvolve projetos educacionais com a temática negra e indígena e audiovisual. Atua, desde 2012, no Cineclube Bamako, além de ter participado como júri de diversos festivais audiovisuais em Recife e Olinda. Em 2018, realizou seu primeiro documentário “Cabelos de Redemoinhos", no qual aborda a desconstrução de imaginários pessoais/coletivos em relação aos cabelos crespos a partir da experiência de 3 mulheres negras. 

Confira um trecho dessa conversa:

Nice Lima: Você está, junto com Gabriel Nunes, Iris Regina e Rayza Oliveira, à frente do Cineclube Bamako. Sabemos que existe essa luta histórica pela representação negra no audiovisual, e eu queria que você destacasse a importância de um espaço como esse. 

Fabiana Maria: Pra nós que formamos o Cineclube Bamako, estar no cineclube foi uma maneira de evidenciar a população negra, porque praticamos o cinema negro, o cinema com causas e objetivos políticos, trazendo para a tela a ansiedade, a angústia, a realidade e a luta do ativismo negro. Então, para nós, é um espaço de formação, de autoconhecimento e de difusão de filmes que normalmente não estariam nas telas oficiais de cinema. Aliás, não somente “normalmente não estariam”, como não estão. Nós também temos momentos de formação sobre a questão de gênero, racial e sobre capacitismo. Estamos sempre discutindo sobre vários temas, para poder trazê-los em sessões do cineclube e levar essas discussões para a sociedade.

Em outro momento, Nice busca entender a relação entre o cineclube Bamako e a prática pedagógica de Fabiana, considerada por ela sua grande paixão e o lugar onde ela se realiza e se encontra. 

Nice Lima: Trazendo um pouquinho dessa tua prática do cineclube dentro da sala de aula, e do ambiente escolar como um todo, como você relaciona sua atuação como cineclubista e como pedagoga? 

Fabiana Maria: Eu gosto muito de trabalhar com projetos voltados para a área da literatura, contando histórias para os meus alunos. O audiovisual é uma ferramenta extremamente importante, porque eu sempre trago filmes relacionados ao tema que nós estamos estudando e fazemos sessões de cineclube. Debatemos e discutimos tudo o que foi trazido nos filmes, como foi o caso do Livro “O Quarto de Despejo”, de Carolina Maria de Jesus, no qual lemos, fizemos diários coletivamente e assistimos filmes relacionados a Carolina. A literatura conversa muito com o audiovisual, e o audiovisual é um reflexo da literatura. Sem a escrita e a leitura, não vai existir roteiro, história ou começo, meio e fim. São apenas linguagens diferentes, o audiovisual é a linguagem do ver, e para a gente ver, as pessoas precisam escrever um roteiro, uma situação, para que o ator ou a atriz possa representar, o diretor possa dirigir e o fotógrafo possa filmar, então está tudo interligado.

* * *

Ficou a fim de acompanhar a entrevista na íntegra? Clica aqui pra conferir. Lembrando que o #TBT101 é uma coluna em que relembramos, toda quinta-feira, entrevistas e programas importantes que já rolaram na programação da rádio pública do Recife.

Todas as  entrevistas ficam disponíveis na sua plataforma de streaming favorita (Spotify, Deezer, Castbox, Google Podcasts, Anchor ou Mixcloud, além do YouTube).


Compartilhe